Jovem que sobreviveu à raiva humana inicia tratamento de reabilitação em Manaus
Manaus/AM - O paciente de 14 anos diagnosticado com raiva humana foi transferido, neste sábado (24), para a Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD), em Manaus. Uma estrutura especial foi montada na unidade de saúde para dar início a uma fase de tratamento focada na reabilitação do jovem.
O jovem estava, desde o dia 23 de dezembro de 2017, no Hospital e Pronto-Socorro da Criança (HPSC) da Zona Leste, unidade de saúde referência da Secretaria de Estado da Saúde (Susam) no tratamento neurológico de crianças e adolescentes. Ele é, segundo o Ministério da Saúde, a quinta pessoa a sobreviver ao vírus da raiva humana no mundo e a segunda no Brasil.
O retorno do paciente à FMT-HVD, onde recebeu atendimento inicial, foi autorizado pelo secretário de Estado de Saúde, Francisco Deodato, após reunião, na unidade, com a direção e equipe que acompanham o tratamento do adolescente.
Uma estrutura especial foi montada na Fundação de Medicina Tropical para a continuidade do tratamento, que agora será voltado para medicina de reabilitação. Ele será acompanhado por uma equipe multidisciplinar formada por pediatras, nutricionistas, infectologistas, neurologistas, fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos e assistentes sociais, além de apoio clínico laboratorial.
De acordo com o médico infectologista Antônio Magela, que acompanha o tratamento do paciente, uma enfermaria privativa foi reservada e equipada aos moldes de uma internação semi-intensiva. O tratamento será por tempo indeterminado, para cuidar de possíveis complicações causadas pela raiva humana.
No início do tratamento, quando foi diagnosticado com a doença na FMT-HVD, o adolescente foi submetido ao Protocolo de Milwaukee, um tratamento experimental para raivas em seres humanos, e teve uso autorizado pelo Ministério da Saúde. Ele é considerado pelo Ministério da Saúde a quinta pessoa a sobreviver ao vírus da raiva humana no mundo e a segunda no Brasil.
Diagnóstico precoce - O infectologista Antônio Magela considera que um dos principais fatores que contribuiu para a cura foi o diagnóstico precoce da doença e a internação imediata. O adolescente chegou ao Hospital da FMT-HVD consciente, sem nenhum sintoma neurológico, mas foi tratado desde o primeiro momento com o Protocolo de Milwaukee, por conta do histórico de agressões de morcego.
O tratamento consiste na sedação do paciente (coma induzido) e uso de medicações – um antiviral e outro medicamento precursor de neurotransmissores, controle da motricidade dos vasos sanguíneos do sistema nervoso central e prevenção de convulsões. No processo, o paciente é mantido em coma induzido, ventilação mecânica e cuidados intensivos de suporte à vida. As medicações foram enviadas pelo Ministério da Saúde à FMT-HVD.
“Ele foi o terceiro membro da mesma família a ser internado. O irmão mais velho, infelizmente, já chegou a Manaus em estado grave e veio a óbito antes de receber o diagnóstico de raiva humana. A irmã de dez anos foi internada na FMT-HVD e chegou a iniciar o Protocolo de Milwaukee, mesmo sem a confirmação de raiva, mas já apresentava quadro muito grave e, lamentavelmente, também não resistiu ao tratamento. Este adolescente foi internado horas após a irmã falecer, apresentando formigamento nas mãos. Nesse mesmo dia, durante a noite, ele teve uma convulsão e precisou ser sedado e encaminhado à UTI”, explicou Magela.
A família do adolescente vive em uma comunidade ribeirinha localizada no Rio Unini, em Barcelos, onde foram relatados casos de agressão por morcegos em humanos. Os três irmãos tiveram histórico de agressão por morcegos hematófagos.
Durante todo o tratamento, as equipes de saúde têm mantido contato com o criador do Protocolo de Milwaukee, o médico norte-americano Rodney Willoughby, referência mundial no tratamento de raiva humana. Ele acompanhou todos os casos com cura da doença no mundo, inclusive o primeiro no Brasil, que ocorreu em 2009.
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