Os egípcios já dominaram o mundo antigo, estabeleceram uma civilização que se tornou base para o desenvolvimento político e social das que a sucederam e construíram a Esfinge, uma das maravilhas do mundo antigo. Nos tempos de modernidade do futebol, o Egito também já pode se vangloriar por ser a terra de origem de uma das maravilhas da temporada atual. Mohamed Salah e seu talento suntuoso conduziram o Liverpool a uma goleada de proporções faraônicas diante da Roma, no jogo de ida das semifinais da Liga dos Campeões da Europa. Foi um retumbante 5 a 2, com dois gols e duas assistências do "Rei do Egito".

O brasileiro Roberto Firmino foi outro protagonista da goleada, também marcando duas vezes e servindo o próprio Salah nos gols do egípcio. A diferença foi que nenhum deles teve a beleza dos "monumentos" construídos pelo colega de ataque. A bela atuação do brasileiro, inclusive, foi vista in loco pelo técnico da seleção brasileira, Tite.

A goleada por 5 a 2 traz novamente um grande constrangimento para o time italiano, que no jogo de volta, em 2 de maio, precisa de um milagre na mesma proporção daquele que ocorreu no confronto pelas quartas de final, contra o Barcelona (levou 4 a 1 na ida e venceu por 3 a 0 na volta).

O que Salah fez em Anfield nesta terça-feira é algo digno de reverências. Não é em vão a exaltação vinda das arquibancadas. Se o atacante não quis comemorar os gols diante do ex-time, teve muita gente comemorando por ele. Até porque não daria para ficar indiferente à precisão e à classe nas duas finalizações que abriram o caminho para a vitória do Liverpool em casa. E olha que a Roma ensaiou um domínio do jogo no primeiro tempo, marcando pressão, colocando a linha defensiva depois do meio-campo.

O gatilho para o domínio do Liverpool no jogo foi uma chance claríssima desperdiçada por Mané, cara a cara com Alisson. Se o senegalês isolou a bola açucarada lançada por Firmino, Salah não fez a mesma desfeita. A tranquilidade com a qual o egípcio acertou o ângulo no lance do 1 a 0 foi de cair o queixo. Pobre goleiro brasileiro, que ainda no primeiro tempo provou outra dose do repertório de Salah: arrancada seguida por cavadinha, com o nervosismo passando longe.

A defesa da Roma entrou em colapso com a movimentação e o talento dos homens de frente do Liverpool, especialmente da dupla Salah-Firmino. A construção da vitória faraônica continuou no segundo tempo, sobretudo porque a marcação romanista não encaixou. Juan Jesus foi um pesadelo. Na etapa final, Salah assumiu o papel de garçom. Primeiro, Mané se redimiu da chance perdida no primeiro tempo e fez o terceiro. Novamente acionado pela ponta direita, o egípcio, desta vez, retribuiu as várias cortesias de Firmino. O quarto e quinto foram do brasileiro.

A Roma só não está morta e enterrada porque encontrou forças para uma reação que a deixa à espera da repetição do milagre contra o Barcelona - uma façanha digna dos gladiadores do Coliseu. Respectivamente aos 36 e 40 minutos do segundo tempo, Dzeko e Perotti, de pênalti, trouxeram uma pontinha de esperança à amarga jornada romanista em Anfield. Mas isso não tira o brilho da atuação do Liverpool e, individualmente, de Salah (que já havia sido substituído no momento dos gols adversários).

A semifinal não está definida, mas, seguindo o ritmo de Salah, o Liverpool tem muitos motivos para confiar em um desfecho monumental que o leve à final da Liga dos Campeões. Os egípcios do mundo antigo ficariam orgulhosos com o filho dos tempos modernos.