A justiça e os caprichos do senador
O senador Eduardo Braga não esconde o seu desejo de manter o Judiciário amarrado a seus caprichos. Neste sábado, durante programa de rádio, cobrou publicamente a fatura do presidente do Tribunal de Justiça do Amazonas, João Simões, que chegou a desembargador em 2004 pelo quinto constitucional, depois de o tribunal receber uma lista sêxtupla da OAB, reduzir a três os indicados e encaminhar para o então governador decidir.
Não se sabe que tipo de compromisso Simões assumiu com Braga para ser o escolhido, mas sem nenhum pudor o senador cobrou a conta pelas ondas do rádio.
Para Braga, Simões deve aderir a sua luta contra a Águas do Amazonas: "de minhas mãos saiu a sua nomeação, ciente de que o senhor é comprometido com o bem e não com o mal feito". "Bem" para o senador é tudo o que ele pensa e faz. Mal é o que os outros fazem. O conceito é vesgo, assim como a visão que o senador tem do verdadeiro papel de um presidente de tribunal.
Braga pode fazer a mesma cobrança a Socorro Guedes, oriunda do Ministério Público, e Domingos Chalub, com o mesmo histórico de João Simões, todos nomeados durante o seu governo.
O quinto constitucional permite esse tipo de cobrança. Parece ter chegado a hora de o Congresso Nacional acabar com essa aberração que privilegia a OAB e o Ministério Público com a indicação de desembargadores biônicos, sem passar pelo crivo do concurso público.
Mas a cobrança do senador pode ter sido positiva, na medida que fez acender a luz vermelha sobre as amarras que essa excrescência, mantida na Constituição de 88, acaba produzindo.
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