MEC autoriza curso de petróleo e gás em Manaus. Especialista alerta que não vale a pena
A Faculdade Metropolitana de Manaus poderá oferecer até 240 vagas do curso de petróleo e gás, segundo Portaria da Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior, do Ministério da Educação (MEC), que autorizou o funcionamento do curso.
Mas a medida não é bem vista por quem atua na área, uma vez que não formaria profissionais a altura das necessidades do mercado.
Artigo do especialista Marcos Valério Silva, que atuou vários anos nessa indústria,da uma idéia do problema:
" Os donos de escolas e faculdades tem dinheiro e enorme poder de lobby junto aos congressistas, logo não haverá interesse em alertar os nossos jovens de que estão perdendo tempo em vez de se prepararem em cursos que realmente os ajudarão no futuro", diz Marcos. Confira:
"Caros jovens amigos,
Gostaria de escrever este texto em forma de carta endereçada aos jovens desse país que estão perdendo tempo e dinheiro em cursos de Petróleo e Gás.Os cursos de Petróleo e Gás a que me refiro neste artigo, são os de nível médio ou que formam tecnólogos. Não me refiro aos cursos de especialização, pois nestes casos o indivíduo já será um profissoional e está apenas buscando um diferencial em relação a outros candidatos.
Este é o segundo artigo que escrevo para o site "Web Artigos". No primeiro chamado "O ROV na Indústria do Petróleo" falei sobre a importância da robótica submarina na pesquisa, exploração e produção do petróleo em águas profundas, no Brasil e no mundo.
Sou profissional offshore a vinte e dois anos, trabalhando na área de robótica submarina (ROV). Durante este tempo, trabalhando no Brasil e no exterior, aprendi o bastante para orientar jovens no ingresso nas carreiras de Petróleo e gás.
Tenho sido contactado por vários jovens que, após completar o curso de Petróleo e Gás, vêm me procurar pedindo orientação de como ingressar no mercado de trabalho. Estes novos cursos são de nível médio ou tecnólogos de nível superior. Neste momento já é tarde, perderam tempo e dinheiro.
Ocorre que estes jovens profissionais não possuem nenhuma formação específica exigida pelo mercado de trabalho na Indústria do Petróleo e gás. Muitos cursos sequer levam os estudantes para visitar uma plataforma.
Estes cursos são genéricos demais, dão uma visão genérica da pesquisa, exploração e produção do ouro negro, mas não especializam o estudante em nenhuma área de trabalho.Esses alunos melhor fariam se tivessem feito cursos de solda, plataformista, operador de rádio, hotelaria e cursos em áreas que realmente teriam aplicação prática na nossa indústria.
Você já viu algum anúncio nos jornais procurando técnicos ou tecnólogos de Petróleo e Gás? Nem a Petrobrás precisa desses profissionais. Pode ver os editais de concurso que vocês não verão a especialidade de Petróleo e Gás, isso nem é uma especialidade e sim um setor da Indústria.Quando você vê um anúncio pedindo um engenheiro de petróleo, ele está se referindo à engenheiros formados em outras áreas e que adquiriram especialização na escola da Petrobrás na Bahia, e/ou têm formação prática em plataformas.
É como se fizessem um curso para formar professores, ensinando somente a história da educação no Brasil e no Mundo. Neste caso não seriam ensinadas técnicas pedagógicas, psicologia infantil, métodos de pesquisa e tudo mais que um professor precisa para estar dentro de uma sala de aula.
O número de profissionais que a Indústria do Petróleo precisa para trazer o óleo e gás até o consumidor final, é muito grande. Esses profissionais são mecânicos, técnicos de eletrônica, mecatrônica, eletricidade, engenheiros nas mais diversas áreas de atuação, profissionais da área de segurança e meio ambiente, enfermeiros, operadores de rádio, profissionais de hotelaria etc. Existem também os profissionais de apoio em terra, como contadores, administradores, secretárias etc.
Essas são algumas das formações básicas que o mercado de trabalho exige para o ingresso do profissional na Industria do Petróleo. Quando se faz um curso de petróleo e gás, não se aprende nada específico que o mercado exige. São cursos teóricos que não serve de base para nenhum trabalho técnico ou operacional da cadeia produtiva do petróleo.
Na minha área específica, a robótica submarina, o candidato precisa ser formado em eletrônica, mecatrônica, mecânica, eletricidade e atividades afins. Somente depois de concluir um desses cursos, o profissional pode ingressar em uma empresa para aprender a trabalhar com ROV ou ainda fazer um curso de ROV em Macaé. A empresa RRC, consultoria e cursos, é uma das poucas escolas do Brasil na área de robótica submarina.
Para saber mais sobre ROV, pode-se ler o meu outro artigo neste site, chamado "O ROV na Indústria do Petróleo".
Neste artigo gostaria de fazer um alerta aos jovens e aos seus pais que, pensando em preparar seus filhos para entrar no grande mercado que se abrirá, devido a exploração do pré-sal, estão, na realidade, gastando tempo e dinheiro em um curso que não os levará a lugar nenhum.
Cheguei até a escrever uma carta ao Ministério da Educação sobre esse assunto, mas não tive nenhuma resposta. Decidi, portanto, usar a força da internet, para divulgar este alerta. Os donos de escolas e faculdades, têm dinheiro e enorme poder de lobby junto aos congressistas, logo não haverá interesse em alertar os nossos jovens de que estão perdendo tempo em vez de se prepararem em cursos que realmente os ajudarão no futuro.
Espero ter ajudado e me ponho à disposição para esclarecer dúvidas remanescentes.
Abraço a todos e boa sorte,
Marcos Valério Silva."
ASSUNTOS: petróleo e gás, Amazonas