Bolsonaristas falam em perseguição, mas não estendem defesa a todos os indiciados pela PF
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Bolsonaristas minimizaram a investigação da Polícia Federal que indicou uma tentativa de golpe de Estado e afirmaram que o indiciamento de Jair Bolsonaro (PL) é mais um elemento da "perseguição" sofrida pelo ex-presidente.
A defesa dos aliados de Bolsonaro não abrange todos os indiciados. O ex-ministro da Casa Civil do governo passado, Ciro Nogueira (PP-PI), disse ter certeza da inocência do ex-chefe. Já Damares, ex-ministra dos Direitos Humanos, afirmou que, se outros tentaram crimes, que paguem, mas eximiu participação de Bolsonaro.
O líder da oposição no Senado e secretário-geral do PL, Rogério Marinho (RN), afirmou em nome do partido que o indiciamento de Bolsonaro e do presidente da sigla, Valdemar Costa Neto, já era "esperado", diante da "incessante perseguição política".
Marinho disse esperar que a PGR (Procuradoria-Geral da República) "possa cumprir com serenidade, independência e imparcialidade sua missão institucional", observando provas concretas e não "meras ilações".
"Confiamos que o restabelecimento da verdade encerrará longa sequência de narrativas políticas desprovidas de suporte fático, com o restabelecimento da normalidade institucional e o fortalecimento de nossa democracia."
A Polícia Federal enviou o inquérito ao STF (Supremo Tribunal Federal) e divulgou apenas o nome dos 37 indiciados, com autorização do tribunal, sob a justificativa de evitar a publicação de informações incorretas sobre o documento.
A lista também inclui o ex-ministro da Defesa e da Casa Civil Braga Netto, vice na chapa derrotada de Bolsonaro, o ex-ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) Augusto Heleno e o ex-diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) Alexandre Ramagem (PL-RJ), hoje deputado federal.
O presidente do PP e senador Ciro Nogueira (PI), ex-ministro da Casa Civil de Bolsonaro, disse ter certeza da inocência de Bolsonaro: "Há coisas a respeito das quais tenho certeza e uma delas é sobre a inocência de Jair Bolsonaro".
O filho do ex-presidente e vereador do Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro (PL), chamou de "maluquice" a revelação do plano de assassinato do presidente Lula (PL), do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e do ministro Alexandre de Moraes, do STF.
"Do nada, surge novamente mais uma dedução de planejamento para mortes, como tentam fazer há tempos. Óbvio que o objetivo de mais essa maluquice toda é sensibilizar uns e colocar a pecha que tentam há anos em outro", disse.
O senador Jorge Seif (PL-SC), por sua vez, ex-secretário da Pesca de Bolsonaro, afirmou que a "perseguição" demonstra medo da liderança política do ex-presidente e mencionou, indiretamente, o impeachment de ministros do STF.
"Moraes e Lula precisam das narrativas mais absurdas para impedir o impossível: que, em 2026, seremos maioria no Senado. O jogo vira e, nas quatro linhas, virá o expurgo", afirmou.
A ideia da oposição hoje é avançar com o impeachment de ministros na próxima legislatura, quando haverá renovação de dois terços do Senado. O grupo também tenta emplacar um projeto de lei que prevê anistia para as pessoas envolvidas com o quebra-quebra de 8 de janeiro.
A senadora e ex-ministra do governo Bolsonaro Damares Alves (Republicanos-DF) admitiu a possibilidade de culpa de outros indiciados, ao dizer que, "se alguém em volta do Bolsonaro falou ou pensou diferente dele, que responda por seus atos".
"Mas não tentem imputar isso a um democrata como nosso eterno presidente", completou, dizendo que indiciamento não é sentença e que Bolsonaro terá direito a ampla defesa.
O deputado federal Carlos Jordy (PL-RJ) afirmou incorretamente que a imprensa já teve acesso ao inquérito, que está sob sigilo. "E o interessante é que vazam as partes que interessam para a narrativa sensacionalista. Não há justiça, há justiçamento", disse.
Desde as primeiras informações levantadas pela PF que apontaram para uma tentativa de golpe no núcleo duro do último governo, aliados de Bolsonaro tentam desvinculá-lo da depredação do Congresso, do STF e do Palácio do Planalto em janeiro de 2023.
Depoimentos e provas que vieram a público apontam, no entanto, para a existência de decretos e planos de operação para manter Bolsonaro no cargo após a vitória de Lula.
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