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Boulos deturpa caso Janones e desvia sobre Lula e Fiesp em sabatina

Por Folha de São Paulo

12/07/2024 14h45 — em
Política



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Sabatinado pela Folha de S.Paulo e pelo UOL durante uma hora nesta sexta (12), o pré-candidato à Prefeitura de São Paulo Guilherme Boulos (PSOL) minimizou condenação por campanha antecipada do presidente Lula (PT) e voltou a usar premissas falsas para justificar o arquivamento das suspeitas de "rachadinha" contra o colega André Janones (Avante-MG).

O deputado federal também tentou ligar Janones, que fez campanha intensa para seu padrinho petista em 2022, ao adversário e atual prefeito Ricardo Nunes (MDB). O parlamentar escorregou ainda ao dizer que sua atividade legislativa não se reduziu neste ano de pré-campanha, enquanto suas propostas na Câmara, por exemplo, diminuíram significativamente.

Boulos tem 23% das intenções de voto na capital paulista e está empatado tecnicamente com Nunes, que tem 24%, segundo pesquisa Datafolha feita na semana passada. O apresentador José Luiz Datena (PSDB) marca 11%, e o ex-coach Pablo Marçal (PRTB), 10%.

Veja algumas das declarações do pré-candidato durante a entrevista:

'Independente de quem faça, rachadinha é crime'

"Acredito que, independente de quem faça, 'rachadinha' é crime. Se for o Flávio Bolsonaro, é crime. Se for o Janones, é crime. Quem quer que seja, 'rachadinha' para mim é crime. Agora, o que eu não posso é usar dois pesos e duas medidas", respondeu ele sobre críticas de que teria "passado pano" para o deputado.

Boulos era relator do caso no Conselho de Ética da Câmara e foi autor do parecer que arquivou o caso em maio. Seu principal argumento é que Janones ainda não tinha tomado posse quando foi gravado pedindo para auxiliares a devolução de parte do salário que eles receberiam na Câmara, ao contrário do que a gravação indica.

"Tem uma jurisprudência [no conselho] que diz o seguinte: o que ocorre antes da atual legislatura, do atual mandato com o parlamentar, não pode ser julgado. O que pode ser julgado é o que ocorre neste mandato, ou um fato novo relevante neste mandato. Foi por isso que se absolveu", ele voltou a defender nesta sexta.

No entanto, as bases desse argumento, que ele usou na época do parecer, são uma decisão deturpada do STF (que ele insinua dizer o que não diz) e declarações do próprio Janones de que a reunião ocorreu antes de ele ser deputado. Ignorando essas falhas, o Conselho de Ética aprovou o texto e arquivou o caso por 12 votos a favor e 5 contra.

'Sabe quem o partido do Janones apoia em São Paulo? O Ricardo Nunes'

O pré-candidato do PSOL ainda tentou colar a figura de Janones ao atual prefeito: "Sabe quem o partido do Janones apoia aqui em São Paulo? O Ricardo Nunes. O partido dele [Janones] é o Avante, está na coligação do meu adversário", afirmou na sabatina.

Janones, porém, integrou a linha de frente da campanha digital de Lula em 2022. "Foi apoiador do Lula, ok, assim como o partido dele estava com o Lula", reconheceu Boulos ao ser confrontado. "Mas eu não fui candidato a presidente, sou candidato a prefeito de São Paulo. O que eu estou querendo dizer é que não teria nenhuma razão estranha, escusa para salvar, para absolver Janones", completou.

'Eu acho impressionante quererem inverter onde está o uso da máquina pública'

Boulos também tentou desviar o foco para Nunes ao ser perguntado sobre a decisão da Justiça Eleitoral que condenou tanto o pré-candidato quanto Lula ao pagamento de multas por fazer campanha antecipada durante ato do 1º de Maio, no qual o presidente disse: "Tem que votar no Boulos para prefeito de São Paulo".

"Eu acho impressionante quererem inverter onde está o uso da máquina pública e da campanha antecipada. O atual prefeito está desde o ano passado... Às vezes vai inaugurar uma placa, um metro de asfalto, e aí ele faz um palanque, fala mal de mim deliberadamente, se promove com dinheiro público e isso é tratado como natural", respondeu.

Diante da insistência na pergunta, ele afirmou: "Não acho que o presidente errou, acho que ele expressou a posição dele no 1º de Maio, num ato das centrais sindicais, que não era ato oficial de governo, num feriado que ele estava fora da agenda oficial."

'MINHA ATUAÇÃO COMO DEPUTADO FEDERAL NÃO FOI PREJUDICADA EM NADA'

Indagado se Boulos abriria mão do cargo e do salário de deputado federal pela campanha, ele rebateu: "Verifique lá no site as minhas faltas em sessões da Câmara. Eu tive uma falta em um ano e meio de mandato. Minha atuação como deputado federal não foi prejudicada em nada pela minha atuação como pré-candidato."

Dados da Câmara mostram que Boulos fez 504 propostas legislativas e 97 discursos em plenário no ano passado, contra 53 propostas e 4 discursos neste ano -números bastante inferiores, ainda que o período seja mais curto. Ele soma 7 ausências no plenário e 29 em reuniões de comissões no mandato, justificadas ou não, mas os números de fato não indicam queda de presença neste ano.

'Quando você está no calor [do momento]...'

Boulos foi ainda questionado sobre uma fala sua em 2016, durante protesto organizado pelo MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) contra o governo de Michel Temer (MDB), na qual a fachada da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) foi depredada.

"A Fiesp defende a destruição do povo brasileiro. [...] Algumas vidraças quebradas não são nada perto do dano que a Fiesp faz para o povo trabalhador", disse ele na época. Perguntado se ele repetiria essa frase hoje que está em pré-campanha, ele afirmou que a declaração foi feita "no calor da hora".

"Eu continuo sendo contra a reforma trabalhista e contra a PEC do teto de gastos, que era o que estava em jogo naquele momento e naquela manifestação. Quando você está no calor... [...] Quando você está numa manifestação, ali com as pessoas, no calor da hora...", afirmou.


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