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CGU de Lula e ONG evitam confronto em Paris após farpas sobre corrupção e 'conversa de boteco'

Por Folha de São Paulo

27/03/2025 7h45 — em
Política


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PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) - Um mês depois de uma polêmica sobre a piora na percepção de corrupção no governo Lula, via imprensa e redes sociais, a CGU (Controladoria-Geral da União) e a ONG Transparência Internacional, autora do ranking, se viram na mesma sala em um evento oficial na capital francesa.

O ministro da CGU, Vinicius Marques de Carvalho, e a CEO da ONG, a brasileira Maíra Martini, participaram nesta terça-feira (25) de uma conferência sobre integridade nos negócios, evento paralelo ao Fórum Global de Integridade e Anticorrupção da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Os dois compunham mesas diferentes e, em suas falas, não abordaram a controvérsia.

Em fevereiro, Carvalho havia comparado a uma "conversa de boteco" o recém-divulgado Índice de Percepção de Corrupção (IPC) da Transparência Internacional. O Brasil teve seu pior resultado na série histórica do ranking, criado em 1995: 107º lugar entre 180 países.

A Folha de S.Paulo ouviu Martini e Carvalho após o evento. Ambos adotaram um tom diplomático. Martini ressalvou que, como CEO mundial, não falaria em nome da equipe brasileira da ONG. "As questões nacionais são eles que respondem", explicou.

A crítica do ministro da CGU tem a ver com a metodologia que mede a percepção de corrupção. Segundo a Transparência Internacional, o índice usa "13 fontes de dados diferentes, oriundas de 12 instituições distintas", do setor privado e de especialistas.

"Pode-se ter pesquisa de percepção, não há problema nenhum nisso", disse Carvalho. "O meu questionamento foi que, da percepção, a Transparência Internacional extrai conclusões que não estão na pesquisa. A gente acaba tendo uma percepção sobre a percepção."

Depois que Carvalho usou a expressão "conversa de boteco", a Transparência Internacional Brasil postou em redes sociais uma crítica ao presidente Lula por, segundo a ONG, ter mencionado o tema corrupção "em menos de 5% de seus discursos oficiais".

Maíra Martini disse que os critérios do IPC estão sujeitos a debate: "Tem vários ângulos para a gente debater o que o ranking mostra e o que o ranking não mostra. Mas deixar de debater eu acho que é um problema."

Arte HTML5/Folhagráfico/AFP https://arte.folha.uol.com.br/mundo/2025/02/10/percepcao-corrupcao-2024/ *** Em entrevista à Folha em fevereiro, ela expressou receio de que a anulação de provas da delação da Odebrecht, determinada pelo STF (Supremo Tribunal Federal), leve à impunidade de corruptos nos países onde a empreiteira tinha negócios.

Nesta quarta-feira (26), tanto Carvalho quanto Martini participaram do Fórum Global, na sede da OCDE, também em sessões distintas.

Em um debate com o tema "Como galvanizar o setor privado como parceiro no combate à corrupção", o ministro da CGU apresentou iniciativas do governo brasileiro, como o selo Pró-Ética, que recompensa empresas que adotem medidas de integridade.

A CEO da Transparência, por sua vez, apresentou o novo Índice de Opacidade da Propriedade Imobiliária, que atribui uma nota à facilidade ou não para lavar dinheiro comprando imóveis. O Brasil é um dos 24 países do estudo inédito e ficou "no meio" do ranking, em 13º lugar.

Nesta quinta-feira (27), participa do fórum da OCDE o ministro Bruno Dantas, do TCU (Tribunal de Contas da União). Ele vai falar do uso de novas tecnologias pelo órgão, como o LabContas, plataforma que integra bases de dados e facilita o cruzamento pelos auditores, e o ChatTCU, ferramenta de inteligência artificial que, segundo ele, aumentou a eficiência do tribunal.

"Nossa ambição é conectar o LabContas com o ChatTCU, e aí o céu é o limite, porque vamos ter milhões de terabytes de informação", disse à reportagem.

A OCDE é uma organização internacional de apoio ao desenvolvimento econômico sustentável. Tem atualmente 38 membros, a maioria da Europa e da América do Norte. Candidato à OCDE há vários anos, o Brasil é considerado "parceiro-chave", participando de suas atividades mesmo sem o status de membro pleno.

O evento paralelo de terça foi organizado pelo Pacto Global-Rede Brasil, iniciativa da ONU, e pela ICC Brasil, que reúne os membros brasileiros da Câmara Internacional de Comércio, uma organização empresarial. Nele, o Pacto Global assinou documento dando apoio oficial a uma iniciativa da CGU, o Pacto Brasil pela Integridade Empresarial.

Os dois "pactos" convidam as empresas à adesão voluntária. A Plataforma Anticorrupção do Pacto Global congrega mais de 350 empresas brasileiras. Já o Pacto Brasil da CGU estimula as empresas a autoavaliar e aprimorar suas medidas de integridade.


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O Portal do Holanda foi fundado em 14 de novembro de 2005. Primeiramente com uma coluna, que levou o nome de seu fundador, o jornalista Raimundo de Holanda. Depois passou para Blog do Holanda e por último Portal do Holanda. Foi um dos primeiros sítios de internet no Estado do Amazonas. É auditado pelo IVC e ComScore.

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