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Chefe da PF exclui a Folha de entrevista coletiva e se nega a explicar motivo

Por Folha de São Paulo

04/12/2024 19h15 — em
Política



BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, promoveu uma entrevista coletiva na manhã desta quarta-feira (4) na sede da corporação, em Brasília, mas a Folha de S.Paulo foi o único dos principais veículos de comunicação do país a não ser convidado.

Andrei foi questionado por meio de sua assessoria sobre as razões do veto, mas não quis se manifestar. O Ministério da Justiça, a quem a PF é subordinada, disse apenas que caberia à corporação se posicionar.

O diretor-geral da PF foi questionado mais tarde pessoalmente pela Folha de S.Paulo, mas se recusou a dar explicações. "Vocês mandaram email lá, né [com pedido de posicionamento]? Não vou comentar", disse o diretor-geral da PF no término da reunião do Consesp (Conselho Nacional de Secretários de Segurança Pública).

Esse tipo de encontro de autoridades com jornalistas é comum em Brasília, e na maior parte das vezes as informações são dadas na condição "off the records" -no jargão jornalístico, com a condição de que a fonte não seja identificada. É incomum, porém, a exclusão de órgãos de imprensa que normalmente fazem a cobertura jornalística diária da cúpula dos três Poderes.

A Folha de S.Paulo normalmente participa desse tipo de entrevista coletiva, desde que os temas a serem abordados sejam relevantes e de interesse público.

A PF teve como principal foco de atuação recente o relatório sobre a trama golpista no final do governo Jair Bolsonaro (PL), em 2022, que resultou no indiciamento de 37 pessoas, incluindo o ex-presidente.

A reportagem obteve a íntegra do áudio da entrevista de mais de duas horas dada por Andrei e de mais três diretores da PF aos jornalistas convidados. A trama golpista foi o principal tema abordado por ele no encontro.

A Folha de S.Paulo publicou desde a divulgação das 884 páginas do relatório policial dezenas de reportagens, análises e artigos de opinião tratando dos diversos pontos trazidos pela investigação, o que incluiu a íntegra do relatório, as lacunas no trabalho da PF, a defesa dos indiciados, os bastidores e a repercussão política, além de outras abordagens -sempre com base em princípios como pluralismo, apartidarismo e jornalismo crítico, que são pilares do Projeto Folha.

No encontro desta quarta, após o diretor-geral da PF falar durante a primeira meia hora, enaltecendo o que vê como qualidades da polícia e da sua gestão, ele foi questionado por jornalistas sobre as lacunas ainda presentes na investigação.

Entre elas, está o fato de a PF não ter ouvido os integrantes do Alto Comando do Exército, colegiado que é apontado no relatório como barreira fundamental para que o golpe não fosse consumado.

Outro ponto ainda carente de prova robusta é a afirmação do relatório de que Bolsonaro sabia do plano de matar Lula, Alexandre de Moraes e Geraldo Alckmin para evitar a posse do petista.

Nas respostas, Andrei afirmou que a decisão sobre não ouvir todos os integrantes do Alto Comando do Exército foi técnica, sem interferência política.

Ele disse ainda que, embora houvesse o plano de assassinato, que foi um dos principais tópicos do relatório final, os crimes que estão sendo investigados se referem à trama golpista.

"Alguém foi indiciado por assassinato? Por tentativa de [assassinato]? Quem está falando de assassinato ali? O que a gente tá falando é de uma trama de golpe, esse é o crime que está sendo investigado", disse, acrescentando: "A organização criminosa não era para cometer assassinatos, ninguém foi indiciado por assassinato. Era para cometer os outros dois crimes, de abolição violenta do Estado democrático de Direito e o golpe de Estado".

O chefe da PF declarou ainda que, se a Procuradoria-Geral da República ou o STF entenderem que há lacunas ou algo mais a se investigar, isso será feito.

Andrei também rebateu o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), que havia criticado a PF após a corporação ter indiciado deputados por discursos que eles fizeram na tribuna do plenário da Casa.

Na última semana, Marcel Van Hattem (Novo-RS) e Cabo Gilberto Silva (PL-PB) afirmaram nas redes sociais que foram indiciados por terem criticado, em plenário, o delegado Fábio Shor, responsável pela investigação sobre tentativa de golpe.

"Temos que separar aquilo que é a liberdade expressão do que é a prerrogativa que o parlamentar tem em relação a sua fala, seus votos, as suas opiniões, do cometimento de crime. Não há direito absoluto", disse o chefe da PF.

Em junho, a Folha de S.Paulo mostrou que entrevistas do diretor-geral da PF sobre investigações em andamento e sob sigilo se tornaram frequentes no governo Lula. Em algumas situações, o chefe da corporação antecipa avaliações jurídicas sobre trabalhos ainda sem conclusão, dizendo já estar certo de que há provas ou apontando crimes em inquéritos que ainda estão em andamento.

Ele repetiu a prática em novembro, em manifestações na manhã posterior ao atentado com explosões na praça dos Três Poderes. Andrei e Moraes anteciparam conclusões que atrelam o episódio aos inquéritos que envolvem Bolsonaro e seus aliados.

Ambos disseram que o atentado não foi um fato isolado e indicaram relações com os outros casos relatados por Moraes sobre ataques às instituições. Também criticaram a possibilidade de anistia a envolvidos nos ataques de 8 de janeiro de 2023.

Andrei foi questionado nesta quarta sobre o episódio. Dessa vez, disse que não podia se manifestar porque a investigação está em curso.


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