Investigação de ataque a assentamento do MST gera atrito entre governos Lula e Tarcísio
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A investigação sobre o ataque ao assentamento do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) em Tremembé (SP) gerou atritos entre os governos Lula (PT) e Tarcísio de Freitas (Republicanos).
A ação, que deixou dois mortos e seis feridos a tiros, aconteceu na noite da última sexta-feira (10).
Integrantes da gestão federal apontam uma suposta pressa da polícia paulista em descartar a possibilidade de o crime estar relacionado à presença do MST na região do Vale do Paraíba -hipótese refutada pela Polícia Civil antes que todos os envolvidos fossem identificados. Eles também questionam se políticos locais, ligados a partidos de direita, podem ter algum envolvimento no caso.
Por outro lado, integrantes do governo Tarcísio negam qualquer direcionamento à polícia que não seja o de esclarecer os fatos. Argumentam que, em menos de 48 horas após o ataque, uma pessoa já estava presa e outra já havia tido ordem de prisão temporária expedida pela Justiça, o que, segundo eles, demonstra a prioridade dada ao caso.
Em meio à desconfiança mútua, a Polícia Federal e a Civil, vinculadas respectivamente aos governos Lula e Tarcísio, estão conduzindo as investigações de forma independente.
À reportagem o ministro Paulo Teixeira (PT), do Desenvolvimento Agrário, expressou seu descontentamento.
Ele questionou por que as investigações da Polícia Civil não estão sendo conduzidas por um setor especializado da capital. "Por que a investigação está sendo feita pela polícia local, e não pelo DHPP [departamento de homicídios], um órgão especializado?", indagou.
Também destacou que, até o momento, apenas uma pessoa foi presa, enquanto "25" teriam participado do ataque, segundo ele o número não foi confirmado pela Polícia Civil.
O ministro esteve em Tremembé no fim de semana, ouviu integrantes do MST e funcionários do Incra e conversou com a Polícia Civil. Ele afirmou que a Polícia Federal continua acompanhando o caso.
Teixeira conhecia Valdir do Nascimento de Jesus, 52, um dos coordenadores do MST na região, assassinado no ataque.
O crime ocorreu quando um comboio de veículos e motocicletas foi até um lote vazio do assentamento horas após um homem ameaçar Valdir. Temendo a ocupação do lote, ele organizou uma vigília no terreno em disputa.
Ao se aproximarem do comboio na entrada do lote, os membros do MST foram recebidos a tiros.
A reportagem encaminhou os questionamentos do ministro ao Palácio dos Bandeirantes, que não se manifestou. Em vez disso, a comunicação de Tarcísio indicou o delegado Múcio Mattos Monteiro, diretor da Polícia Civil na região do Vale do Paraíba, para comentar o caso.
"O caso aqui é uma disputa por um lote. Uma pessoa negociou o lote com outra, três anos atrás. Eles se desentenderam", afirmou o delegado. "Esses são os fatos."
Até o momento, a Polícia Civil prendeu Antônio Martins dos Santos Filho, 41, conhecido como Nero do Piseiro, que teria confessado participação no ataque. Outro suspeito, Ítalo Rodrigues da Silva, está foragido desde domingo (12), quando teve sua ordem de prisão expedida pela Justiça.
Segundo o delegado, Ítalo seria o homem que reivindicava a posse do lote e organizou o ataque. Monteiro afirmou que os assentados baleados e mortos teriam recebido o comboio, no dia do ataque, com pedaços de pau, o que poderia ter contribuído para a violência.
O delegado disse ainda que as investigações continuam, mas não detalhou quantas pessoas estão sendo procuradas. Disse ainda que dois carros e três motos foram usados na ação -número diferente do informado por integrantes do MST, que mencionaram ao menos cinco automóveis, incluindo uma picape Volkswagen Amarok, além das motos.
Monteiro também questionou a legitimidade do assentamento, afirmando que antigos proprietários do terreno nunca foram indenizados pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e dizendo que não havia produção agrícola na área.
O assentamento foi regularizado pelo Incra em 2005. Em dezembro passado, todos os membros do MST ocupantes da área tiveram sua situação na área regulamentada.
Valdir, o dirigente morto, chegou a enviar uma mensagem de WhatsApp aos colegas comemorando o feito. A falta de destinação do lote vazio, que estava em disputa, por outro lado, fez dirigentes do movimento se queixarem do instituto após o crime.
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