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Lula mandou auxiliar confrontar Silvio Almeida na semana passada sobre assédio a Anielle

Por Folha de São Paulo

07/09/2024 15h45 — em
Política



BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O processo que culminou na demissão do ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, começou a ser desenhado na semana passada, quando o presidente Lula (PT) enviou um emissário para confrontá-lo.

Lula e a primeira-dama, Rosângela Lula da Silva, sabiam da acusação de assédio à ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, há pelo menos sete dias.

Alertado por um ministro palaciano de que havia rumores a respeito da conduta do titular dos Direitos Humanos, Lula determinou que o ministro da CGU (Controladoria-Geral da União), Vinicius Carvalho, o questionasse sobre a veracidade da denúncia. Ele mandou o recado que, em caso afirmativo, Almeida não poderia permanecer no governo.

A reunião aconteceu na semana passada. Silvio Almeida negou com veemência qualquer ato impróprio. Anielle, por sua vez, não havia formalizado a denúncia. Segundo duas pessoas com quem a ministra conversou, ela dizia preferir enterrar o caso e acrescentava desejar nunca ter passado pela situação.

As assessorias de Lula e Janja foram procuradas, mas não se manifestaram.

Durante entrevista a uma rádio de Goiânia (GO), o presidente disse que apenas tomou conhecimento dos fatos na noite de quinta (5). Aliados afirmam que o mandatário se referia aos detalhes da denúncia, e não aos rumores.

Entre maio e junho do ano passado, Anielle Franco havia relatado a amigos próximos, incluindo a alguns integrantes do governo, os incidentes com Silvio Almeida. Quando incentivada a levar o caso adiante, ela relatava que não tinha provas para sustentar a sua versão. Também dizia não querer expor a família de ambos.

Segundo interlocutores, a partir de junho deste ano a ministra se viu obrigada a alertar integrantes do governo sobre o risco de o caso vir à tona. Sua assessoria e ela própria passaram a ser procuradas por jornalistas, que as questionavam sobre a veracidade dos relatos.

Procurada pela colunista Mônica Bergamo em junho, ela não confirmou nem negou o episódio.

O caso acabou revelado pelo site Metrópoles na quinta.

Após a demissão de Silvio Almeida, Anielle Franco afirmou nas redes sociais que "tentativas de culpabilizar, desqualificar, constranger, ou pressionar vítimas a falar em momentos de dor e vulnerabilidade também não cabem, pois só alimentam o ciclo de violência".

Duas pessoas ligadas ao Ministério dos Direitos Humanos, mas que pediram para não serem identificadas, disseram que pelo menos desde janeiro integrantes do Palácio do Planalto sabiam da suspeita do caso de assédio cuja vítima seria Anielle Franco.

Uma delas ainda relatou que auxiliares palacianos procuraram pessoas próximas à ministra, que confirmaram a história.

Silvio Almeida foi demitido pelo presidente Lula na noite desta sexta, um dia após as acusações de assédio sexual virem a público. A organização Me Too Brasil confirmou em um comunicado que recebeu as acusações de mulheres contra a Silvio Almeida, mas disse que iria proteger as identidades das denunciantes.

O então titular dos Direitos Humanos negou as acusações, por meio de notas e um vídeo postado em redes sociais. Silvio Almeida então acrescentou que encaminhou ofícios para que as denúncias contra ele fossem investigadas, por diferentes instâncias do governo federal.

"Repudio com absoluta veemência as mentiras que estão sendo assacadas contra mim. Repudio tais acusações com a força do amor e do respeito que tenho pela minha esposa e pela minha amada filha de 1 ano de idade, em meio à luta que travo, diariamente, em favor dos direitos humanos e da cidadania neste país", afirmou.

O presidente Lula estava fora de Brasília quando as acusações foram reveladas, se deslocando de Uberlândia (MG) para São Paulo, onde participou da cerimônia de abertura da Bienal. Mais tarde na noite de quinta, uma postagem da primeira-dama indicou que o destino de Silvio Almeida estava selado.

Janja publicou uma foto em que aparece beijando a testa de Anielle Franco. Na manhã seguinte, Lula indicou a demissão de Almeida ao comentar pela primeira vez os fatos, durante entrevista a uma rádio de Goiânia.

"Vamos ter que apurar corretamente, mas eu acho que não é possível a continuidade no governo, porque o governo não vai fazer jus ao seu discurso, à defesa das mulheres, inclusive dos direitos humanos, com alguém que esteja sendo acusado de assédio", disse.


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