Pablo Marçal mantém boom de seguidores, mas engajamento pós-eleição cai
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Se a métrica for popularidade digital, Pablo Marçal (PRTB) não tem muito do que reclamar de 2024.
Em abril, quando mal se falava sobre sua pré-candidatura a prefeito de São Paulo, o influenciador já tinha 7,6 milhões de seguidores.
A agitação eleitoral inflaria essa base com 5,2 milhões de seguidores extras garantiu assim o dobro do que têm, somados, os adversários que ele enfrentou nos debates (Ricardo Nunes, Guilherme Boulos, Tabata Amaral, José Luiz Datena e Marina Helena).
Em novembro, com a eleição já resolvida a favor de Nunes (MDB) num segundo turno contra Boulos (PSOL), o terceiro colocado no pleito paulistano deixou de ser acompanhado por 74 mil perfis da rede social. E chega a hoje com os 12,7 milhões que o seguem em sua conta principal.
Mas o número de seguidores não é tudo na vida de um influenciador. Levantamento feito pelo Monitor do Debate Político no Meio Digital a pedido da Folha de S.Paulo, sob coordenação de Márcio Moretto Ribeiro, mostra que o engajamento nas postagens de Marçal caiu significativamente no mês seguinte ao pleito, ficando inclusive um pouco abaixo dos níveis pré-eleitorais.
O zum-zum-zum sobre sua candidatura começou em abril, quando a mídia noticiou que o PRTB trocaria Padre Kelmon pelo autointitulado ex-coach na chapa municipal. O plano foi oficializado com um anúncio no final de maio.
Naquele mês, ele atraiu holofotes nacionais ao se envolver na ajuda para desabrigados pelas enchentes no Rio Grande do Sul. Na ocasião, chegou a espalhar versões classificadas como fake news por autoridades, como a de que barcos com condutores sem habilitação estavam sendo impedidos de auxiliar no resgate.
Ele já havia tentado concorrer a presidente em 2022, mas desistiu e apoiou Jair Bolsonaro (PL), enquanto seu partido à época, o Pros, aliou-se a Lula (PT). Ainda viu sua candidatura a deputado federal ser indeferida no mesmo ano.
Mesmo antes da carreira política encorpar, o engajamento que Marçal alcançava com suas contas no Instagram não era de se jogar fora. Segundo o Monitor do Debate, entre janeiro e abril, o influenciador conseguiu uma média mensal de 11 milhões de curtidas, 665 mil comentários e 87 milhões visualizações de vídeos no Instagram, a rede social que ele mais usa. Publicou, no período, uma média de 109 vezes por mês.
Exemplo de postagem que bombou na época: ele, ainda na pele de coach, aconselhando a não se importar se falam mal de você, porque, sendo verdade ou mentira, não há o que fazer. "Por isso que crítica e elogio eu ponho num saco, peso e dá zero grama. Tô nem aí, cara." O vídeo teve um desempenho excepcional para o período, de 983 mil likes.
Entre maio e outubro, já no turbilhão político, a média de mensagens galopou para 713 por mês, e a de curtidas disparou para 59,2 milhões, com o pico em setembro (120,4 milhões delas). Os comentários saltaram para cerca de 2,9 milhões. As visualizações do conteúdo audiovisual incharam para a média mensal de 382,6 milhões. O auge aconteceu no mês que antecedeu o primeiro turno, com 749,1 milhões de acessos.
Aqui se destacaram posts como o momento em que Boulos se irritou quando Marçal empunhou uma carteira de trabalho na cara dele, durante um debate em agosto. Ele disse que iria exorcizar o psolista após chamá-lo de "vagabundo", insinuando que ele não gosta de trabalhar. O corte para a internet ganhou como trilha sonora o axé "Xô, Satanás". Saldo: 1,3 milhão de curtidas.
O então candidato do PRTB sofreu reveses judiciais no meio do caminho que incluíram bloqueio de contas suas no Instagram, o que o fez criar novas que rapidamente juntavam mais seguidores do que o de seus oponentes, nenhum deles com a mesma desenvoltura virtual.
Para botar esse estudo de pé, os pesquisadores monitoram cinco perfis associados a ele, inclusive as páginas reservas ativadas para contornar os bloqueios impostos pela Justiça.
Em novembro, as publicações de Marçal despencaram para 7,5 milhões de curtidas, 245 mil comentários e 68 milhões de visualizações. Foram 194 postagens até quarta (27). A voltagem política caiu consideravelmente há exceções, como a reprodução de uma fala de Elon Musk dizendo, após ser xingado pela primeira-dama Janja, que os petistas perderiam em 2026. "Esse PT acaba com a imagem do nosso povo!!!", comenta Marçal. Ganhou 280 mil coraçõezinhos pela publicação.
Algumas postagens vão melhor. Numa foto com Carol, sua esposa, ele elenca "7 verdades difíceis de engolir sobre casamento", entre elas "homem não tem amiga, mulher não tem amigo, o casal tem amigos juntos". Foram 428 mil likes.
Marçal diz que conversa para se filiar ao União Brasil, partido com mais envergadura para seu projeto de disputar a Presidência em 2026. Processos que podem levar à sua inelegibilidade, contudo, podem pôr um freio nessa negociação.
"Caso Marçal decida explorar novas ambições políticas, como especulado para as eleições presidenciais de 2026, ele parte de uma base ampliada, que poderá ser um ativo valioso em futuras campanhas", diz o estudo pilotado por Márcio Ribeiro. "No entanto, o desafio a longo prazo será manter esse público engajado além do período eleitoral."
"O número de seguidores é uma espécie de um potencial", segundo o doutor em ciências da computação e professor da USP. "Marçal ainda tem ainda muitos seguidores, muitos mesmo. Perto do quanto ele ganhou, o quanto ele perdeu [pós-pleito] é irrisório."
Mas quantidade "pode não significar grandes coisas" na praça virtual, afirma Ribeiro. Vide José Luiz Datena, o apresentador que disputou a prefeitura paulistana pelo PSDB. Ele tem 1 milhão de seguidores, mas não provoca grande reação deles na rede social, a não ser em situações fora da curva, como quando deu uma cadeirada em Marçal num debate.
"Ele teve um engajamento muito pequeno nas eleições, embora uma quantidade de seguidores enorme. Então, é sempre uma pergunta o quanto você consegue transformar esse público potencial em público engajado", afirma o pesquisador. "A questão é que Marçal é muito bom nisso."
ASSUNTOS: Política