Compartilhe este texto

Polarização entre Raquel Lyra e João Campos em PE tem cobiça por PT e bolsonarismo isolado

Por Folha de São Paulo

06/01/2025 9h00 — em
Política



RECIFE, PE (FOLHAPRESS) - A polarização em Pernambuco entre a governadora Raquel Lyra (PSDB) e o prefeito do Recife, João Campos (PSB), é marcada pela indefinição de alianças partidárias e políticas visando as eleições de 2026.

Enquanto a governadora vai tentar a reeleição, o prefeito do Recife é cotado para ser o nome da oposição na disputa pelo governo estadual.

Aliados avaliam que, se a eleição fosse hoje, não teriam dúvidas da candidatura, mas dizem que João Campos ainda tem mais de um ano pela frente e que, nesse período, o cenário pode mudar.

Um indício de que o prefeito pretende disputar a eleição estadual foi o fato de escolher o ex-chefe de gabinete e amigo pessoal Victor Marques (PC do B) como vice na sua chapa nas eleições de 2024.

O vice-prefeito eleito poderá assumir a prefeitura em caso de renúncia de João Campos em abril de 2026 para ser candidato ao governo.

Na esfera estadual, Raquel tem como prioridade para 2025 a entrega de obras e a tentativa de fortalecer o governo politicamente. A avaliação interna é a de que é preciso deslanchar neste ano, inclusive com ações concretas na região metropolitana do Recife, para se sobrepor à alta popularidade de Campos.

A gestão Raquel também aposta que o prefeito terá uma oposição mais contundente na Câmara Municipal, podendo gerar questionamentos sobre a qualidade da gestão municipal, mesmo após uma reeleição dele com 78% dos votos válidos.

No Palácio do Campo das Princesas, a leitura é a de que Campos teve méritos para alcançar um resultado expressivo, mas que a oposição praticamente se omitiu do papel de fiscalizar a prefeitura.

No plano estadual, a expectativa é que a governadora faça alterações no primeiro escalão da gestão, inclusive com indicações políticas de partidos que poderão ser atraídos para o arco de alianças mirando a próxima eleição, como MDB e União Brasil.

Os dois partidos estão divididos, com alas pró-João Campos e outras pró-Raquel. O MDB quer, seja com um ou outro, a garantia da candidatura à reeleição do senador Fernando Dueire, que assumiu o cargo em 2023 após a renúncia de Jarbas Vasconcelos.

O União Brasil tem o grupo do deputado federal Mendonça Filho a favor de Raquel e a ala do ex-prefeito de Petrolina Miguel Coelho aliada ao prefeito.

Partidos que são dados como certo no palanque da governadora são o próprio PSDB, ao qual é filiada, o PP e o PSD, ao qual Raquel deve se filiar em 2025. A vice-governadora Priscila Krause (Cidadania) deve ser candidata à reeleição ou ao Senado.

A expectativa é que a travessia para a sigla de Gilberto Kassab, secretário de Governo de São Paulo, seja articulada com o próprio PSDB, para manter os tucanos na base da governadora.

A governadora deve prometer ao PSDB ajuda para eleger deputados federais pela sigla no estado. A ideia planejada pelo governo é atuar pelas duas legendas, como foi na eleição municipal.

Na oposição, Campos deve conciliar a gestão do Recife com a presidência nacional do PSB. Ele assumirá o comando do partido em maio. A função será uma vitrine para ampliar a sua imagem em âmbito nacional e estadual e tem como objetivo também fortalecer o partido com a atração de novos filiados.

Campos tem um quebra-cabeça na montagem de uma eventual chapa para a disputa de 2026.

Três nomes disputam uma vaga para o Senado em seu grupo político, mas só duas cadeiras para senador estarão em jogo. Isso porque Humberto Costa (PT) é tido como candidato natural à reeleição e é a prioridade do PT no estado.

"O partido está dando prioridade à eleição do Senado. O presidente Lula disse a mim que, para ele e para um eventual quarto governo, é muito mais importante uma boa bancada de senadores do que muitos governadores", afirma Humberto Costa, ao descartar candidatura própria do PT para o governo estadual.

Três nomes podem fazer companhia ao petista na chapa: Silvio Costa Filho (ministro de Portos e Aeroportos, do Republicanos), Marília Arraes (ex-deputada federal, do Solidariedade) e Miguel Coelho, do União Brasil.

Uma das prioridades de Lula é eleger senadores do PT ou aliados nos nove estados do Nordeste, para se contrapor ao bolsonarismo, que tem como prioridade a eleição do Senado. Nesse cenário, Miguel Coelho, cujo pai, o ex-senador Fernando Bezerra Coelho, foi líder do governo Jair Bolsonaro, não é um nome de confiança dos petistas.

O prefeito também trabalha com a possibilidade de atrair Miguel ou Silvio para a vice numa possível chapa, prometendo protagonismo em um eventual governo com uma secretaria robusta entregue ao vice.

O governo assiste à disputa e não descarta uma mudança de lado de Miguel Coelho ou do próprio PT, oferecendo as vagas para o Senado. Os deputados da legenda costumam votar a favor de Raquel na Assembleia Legislativa.

Os governistas também cogitam oferecer cargos a quadros petistas no governo, para enfraquecer os aliados de Campos dentro da sigla. Mesmo assim, o entorno de Raquel sabe que é difícil uma aliança com o PT em 2026, já que o PSB apoiará Lula nacionalmente.

Aliados próximos acreditam que Campos será candidato a governador, mas frisam que o fator que poderá fazê-lo não se lançar é se Raquel deslanchar ao longo de 2025 e avançar na sua popularidade. Publicamente, o PSB não admite a candidatura de João Campos.

"É muito difícil prever com um ano e meio antes, mas está posto que o PSB é o principal partido de oposição em Pernambuco e que tem uma liderança jovem e nacional como João Campos. Mas não existe hoje essa discussão de quem vai ser candidato", diz o deputado federal Pedro Campos (PSB), irmão do prefeito.

Como terceira via, o PL deverá lançar chapa própria para fazer palanque para o candidato bolsonarista à Presidência. O partido terá como desafio buscar a unidade interna, já que os grupos do ex-ministro do Turismo Gilson Machado e do ex-prefeito de Jaboatão dos Guararapes Anderson Ferreira estão rompidos. Após uma proximidade inicial, a sigla se afastou de Raquel em 2024.

*

RAIO-X | PERNAMBUCO

- População estimada (2024): 9.539.029

- Eleitores (2024): 7.152.871

- Área territorial: 98,1 mil km²

- PIB per Capita (2021): R$ 27.139

- Orçamento estadual (2024): R$ 48,8 bilhões

- Orçamento estadual para investimentos (2024): R$ 2,9 bilhões

Governadora

- Raquel Lyra (PSDB)

Senadores

- Teresa Leitão (PT) - 2023-2031

- Humberto Costa (PT) - 2019-2027

- Fernando Dueire (MDB) - 2019-2027

Número de prefeituras por partidos eleitos em 2024

- PSDB: 32

- PSB: 31

- PP: 24

- Republicanos: 22

- PSD: 20

Votação por partido para prefeito em 2024 (1º turno)

- PSB: 1.089.446

- PSDB: 452.187

- PSD: 293.352

- Republicanos: 266.539

- União Brasil: 251.095

Fontes: Governo de Pernambuco, IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e TSE (Tribunal Superior Eleitoral)


Siga-nos no
O Portal do Holanda foi fundado em 14 de novembro de 2005. Primeiramente com uma coluna, que levou o nome de seu fundador, o jornalista Raimundo de Holanda. Depois passou para Blog do Holanda e por último Portal do Holanda. Foi um dos primeiros sítios de internet no Estado do Amazonas. É auditado pelo IVC e ComScore.

ASSUNTOS: Política

+ Política