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Presidente do partido de Marçal é acusado de falsificar documentos para votação

Por Folha de São Paulo

07/10/2024 19h00 — em
Política



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O presidente do partido de Pablo Marçal (PRTB), Leonardo Alves de Araújo, conhecido como Avalanche, é acusado de adulterar documentos para angariar votos de filiados em eleição que o alçou a chefe da sigla em fevereiro deste ano, em Brasília.

Segundo boletim de ocorrência registrado por uma das pessoas que teriam sido recrutadas para a suposta farsa, Avalanche distribuiu RGs falsos a 11 pessoas que embarcaram de São Paulo para Brasília na véspera da votação do diretório nacional.

Nos documentos, constavam os dados dos fundadores do partido, mas as fotos seriam dos farsantes. O estatuto do PRTB determina que a eleição do diretório nacional deve ser definida por votos dos filiados mais antigos.

Avalanche foi procurado pela reportagem, mas ainda não respondeu.

Em depoimento à Polícia Civil, o denunciante afirmou que cada um recebeu R$ 1.000 do dirigente, além de passagem aérea, estadia e a promessa de um fim de semana com um acompanhante em um resort. Teriam sido oferecidos também cargos no diretório do partido em São Paulo.

Em reprodução de tela do grupo de mensagens dos supostos filiados falsos, obtida pela Folha de S.Paulo, há orientações que seriam de Avalanche para tirarem seus RGs originais do plástico no dia da votação e colocarem os forjados.

Entre as mensagens, há orientação também para dizerem serem fundadores do PRTB e reproduzirem a assinatura do RG falso.

Segundo a denúncia, antes da viagem, o próprio presidente do partido selecionou os integrantes do esquema para que não houvesse discrepância entre a aparência e a respectiva idade no documento falso.

Ao chegar a Brasília, ainda segundo o boletim, o grupo foi orientado a aguardar no hotel e se dirigir ao TRE-DF (Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal) no momento da votação.

No fim, Avalanche os avisou de que não precisariam votar porque ele já havia conseguido o número suficiente para ser escolhido presidente da sigla. Ele foi eleito com 30 dos 53 votos computados.

Ex-membro do diretório nacional, Edinázio José da Silva, líder da chapa perdedora na votação, afirma que Avalanche usou o grupo de farsantes para pressionar integrantes reais do partido a apoiarem-no, com o argumento de que conseguiria a maioria de qualquer maneira.

"Fui para Brasília disputar uma eleição licita, sou um dos mais antigos membros do partido. Quando cheguei lá, vi um ônibus cheio de gente", diz Silva, que demanda a anulação da votação na Justiça Eleitoral por ter fraude.

Aliado de Marçal, o presidente do partido afirmou anteriormente manter vínculos com integrantes da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), como mostrou áudio obtido pela Folha de S.Paulo, no início de agosto.

Questionado, Avalanche afirmou não reconhecer sua própria voz no áudio nem a veracidade da gravação.

Tarcísio Escobar, ex-presidente do diretório do partido em São Paulo durante o mandato de Avalanche, foi indiciado pela Polícia Civil sob suspeita de associação ao tráfico numa investigação envolvendo o PCC.

Diante da repercussão da ligação de integrantes do partido com o crime organizado, Marçal oscilou. Primeiro, afirmou que mantinha uma relação distante com a legenda.

"Eu resolvi me afastar, particularmente dele [Avalanche], e estou seguindo a minha campanha em paz, porque é constrangedor o tempo inteiro ter que responder essas questões", disse em entrevista ao programa Roda Viva, em 2 de setembro.

Dois dias depois, ele defendeu o dirigente e apontou perseguição da imprensa. "Ele não tem nada a ver com o PCC, coitado. Ele está sendo despejado da casa dele, se tivesse ligação com o PCC, acho que o PCC ia ajudar ele a pagar", declarou.

Marçal, que ficou de fora do segundo turno, publicou na sexta-feira (4) um laudo falso que associa o adversário Guilherme Boulos (PSOL) ao uso de drogas a menos de dois dias da votação. O documento acumula evidências de falsificação, como o RG errado de Boulos, com um número a mais, incompatibilidade com a agenda pública do deputado e inconsistências no prontuário.

A campanha do PSOL pediu à Justiça a cassação e a prisão de Marçal por falsificação de documentos.


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