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Circuito Gastronômico de Favelas começa neste sábado no Complexo do Alemão

Por Agência O Globo

17/11/2018 3h21 — em
Rio de Janeiro



RIO - Há quase duas décadas, a cozinheira Maria Ivonete Santos, de 49 anos, deixou Penedo, município alagoano de 64 mil habitantes, e aportou no Rio com o marido e os três filhos. Buscavam uma vida melhor. A família alugou um imóvel na localidade Nova Divineia, no Morro do Andaraí, e Maria Ivonete foi à luta. Trabalhou como faxineira, manicure e depiladora. Em 2012, teve a oportunidade de abrir um bar perto de casa, o Chega Mais. Agora, mais uma porta se abre para a nordestina, que herdou da avó o talento com as panelas. Ela integra o time de 16 cozinheiros que participam do Circuito Gastronômico de Favelas, evento que será realizado amanhã no Complexo do Alemão e, no dia 25, no Andaraí, com a proposta de divulgar a culinária das comunidades cariocas.

— É uma iniciativa que valoriza o nosso trabalho, que mostra a boa comida de gente batalhadora das favelas — diz Maria Ivonete.

Cada participante do evento (oito de cada comunidade) terá um estande, onde serão vendidos quitutes com preços entre R$ 5 e R$ 20. O carro-chefe de Ivonete é a carne de sol — curada por ela mesma e servida com aipim frito. Outros quitutes de seu cardápio são o carrê de panela com feijão-fradinho e o baião de dois com peixe frito — as porções custam de R$ 10 a R$ 15.

Doces bárbaros

A confeiteira Thaisa Nascimento, de 24 anos, do Complexo do Alemão, levará para o festival um pudim de banana que diz ser sua especialidade, além de bolo de pote, brownie, pão de mel e cones trufados (entre R$ 5 e R$ 10). O currículo de Thaisa inclui formação técnica em panificação e confeitaria pelo Senai e curso superior em gastronomia na Unisuam.

A faculdade foi paga com a venda dos quitutes feitos na cozinha que o pai construiu para ela em casa mesmo: numa semana, ela costuma preparar 15 bolos decorados sob encomenda. Por enquanto, a divulgação acontece pelas redes sociais.

— Quero fazer uma pós-graduação e abrir uma confeitaria no futuro. Não me vitimizo por ser de comunidade. Quem corre atrás e se esforça consegue chegar longe — ensina.

Oficinas de capacitação

Os 16 expositores não pagaram nada para participar do evento e ficarão com toda a renda arrecadada. Eles receberam oficinas de capacitação em finanças, higiene alimentar, marketing e empreendedorismo no projeto social Diamantes na Cozinha, do chef João Diamante. João é baiano, foi criado na comunidade da Divineia e teve na gastronomia o passaporte para Paris, onde trabalhou no restaurante Le Jules Verne. No Rio, chef do restaurante Fazenda Culinária, no Museu do Amanhã, durante dois anos.

Ele conta que aceitou o convite para ser embaixador e curador do festival por se identificar com a proposta:

—Tenho grande interesse em integrar o morro e o asfalto, fomentar a economia da comunidade. Eu tinha tudo para dar errado: sou nordestino, preto, favelado. Mas consegui vencer na vida pela gastronomia.

O Circuito Gastronômico de Favelas, realizado pela produtora cultural mineira Danusa Carvalho e pelo rapper Flávio Renegado, chega ao Rio após duas edições em Belo Horizonte. No Alemão, acontecerá no Rua Engenheiro Manoel Segurado, ao lado da UPA. No Andaraí, será na Rua Jeriba, ao lado da Subestação de Furnas.

— Os lugares foram escolhidos com muito cuidado. Queríamos que fossem acessíveis e dessem segurança — afirma Danusa.


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