Governador eleito Wilson Witzel quer continuar no Grajaú, a ‘Urca da Zona Norte’
RIO - Um bairro predominantemente residencial, ainda com muitas casas e árvores, e com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) elevado, que alcança 0,938 quando o máximo é 1. Assim é o Grajaú, que embora longe do mar, foi apelidado de “a Urca da Zona Norte”, por conta do clima de interior. Seu morador mais ilustre atualmente, o governador eleito do Rio, Wilson Witzel, já declarou que não pretende trocar o endereço pelo Palácio Laranjeiras. Se mantiver a promessa de que seus filhos mais novos estudarão em unidades públicas, o ex-juiz federal não terá dificuldades para matricular as crianças perto de casa. No Grajaú, poderá escolher entre cinco escolas municipais. Mas se não quiser ter plano de saúde, como também afirmou, terá de se deslocar, caso precise de atendimento médico de urgência. O Hospital do Andaraí, da rede federal, é o mais próximo do bairro, que não tem unidade própria.
Mas não é para a saúde ou para a educação que os moradores esperam um olhar mais atento do vizinho governador — e sim para a segurança. O número de roubos de veículos na área da 20ª DP (que inclui ainda Andaraí e Vila Isabel) aumentou 7%, comparando janeiro a setembro deste ano com igual período de 2017. Os roubos a transeuntes também cresceram 8%, enquanto os casos de letalidade violenta diminuíram de 24 para 14 (menos 42%).
Mesmo se queixando da violência, a aposentada Ivone Soares, de 73 anos, que trocou o Leblon pelo Grajaú há 35, garante que não se arrepende. Apesar de ter sido assaltada em casa três vezes e vítima de um sequestro-relâmpago em 2016, ela prefere destacar as qualidades:
— Temos de ter esperança no futuro. O Grajaú é um bairro calmo. Parece uma cidade pequena. Não temos um comércio variado, é preciso ir à Tijuca ou ao Méier para fazer compras, mas contamos com boas ofertas de bares e restaurantes.
O cantor e compositor Martinho da Vila, ex-morador do Grajaú — de lá foi para Vila Isabel e, agora, vive na Barra — prefere considerar o bairro do governador eleito como parte de uma região maior:
— Grajaú e Vila Isabel são a mesma coisa. No passado, chamavam o Grajaú de dormitório da Vila. Era um bairro mais silencioso, só de casas. De fato, o Grajaú fica em Vila Isabel. E o governador eleito pode dizer que é da Vila — diz Martinho, puxando brasa para a região que leva no nome.
Com um total de 5,74 quilômetros quadrados, o Grajaú — que, segundo a prefeitura, não faz parte a Vila, como Martinho gostaria — completou 104 anos em agosto. Tem una reserva florestal e três favelas. As comunidades Boca do Mato, Nova Divinéia e Parque João Paulo II viram sua população crescer de 3.867 para 5.010 moradores em 10 anos.
A Edmundo Rego é a principal praça do bairro. Com formato de círculo, na confluência das avenidas Engenheiro Richard e Júlio Furtado, é o ponto de encontro preferido dos moradores. No seu entorno, está localizada a Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, alguns pontos finais de ônibus, agência bancária, farmácia, açougue, restaurantes e um supermercado. A praça é a área escolhida pelo servidor público Flávio Ferreira para passear com a filha Nina, de 1ano.
— Gosto muito daqui. Não é preciso sair do bairro para se divertir. Temos clubes, bares e restaurantes. O Grajaú tem também características de cidade do interior, onde todo mundo se conhece e é possível resolver quase tudo sem usar o carro. A praça é a principal opção para trazer os filhos. É bem movimentada, em especial nos fins de semana. É um bairro muito arborizado, coisa difícil de ver. Não trocaria por outro lugar.
Na Rua Professor Valadares, onde mora o governador eleito, o principal ponto de encontro é a padaria Joia do Grajaú, na esquina com a Rua Canavieiras. A última vez em que Witzel esteve no local foi domingo, logo após depositar seu voto numa urna no Grajaú Country Club, o maior da região, fundado há 78 anos. Segundo o dono do estabelecimento, Sebastião Pedro da Silva, Witzel costuma bater ponto na padaria de duas a três vezes por semana, sempre com o mesmo pedido — um café puro e pão com manteiga na chapa.
— Gosto muito daqui. É a Urca da Zona Norte. O que preocupa é a violência. Minha padaria foi assaltada quatro vezes este ano. Espero que agora mude — torce o comerciante.
O aposentado Dario Leal Neto, de 73 anos, também acredita que o local vai ganhar mais segurança, caso Witzel realmente não troque de endereço. O casal Ana Maria de Biase e Fausto Peixoto Coimbra, vizinhos de frente do ex-juiz, pensa da mesma forma.
— Estamos cheios de confiança — afirma Ana Maria.
Os primeiros ventos de mudança já começaram a ser sentidos pelos moradores. Desde o início da campanha, dois PMs à paisana não saem da frente da residência de Witzel, uma casa de dois andares, mesmo quando o ocupante ilustre está fora. Na esquina com a Avenida Júlio Furtado, uma viatura do 6º BPM (Tijuca), ocupada por dois PM, se encarregava ontem da vigilância.
Segundo Fernando José da Silva, diretor da Associação de Moradores do Grajaú, o bairro tem muitas necessidades, mas a maioria é atribuição da esfera municipal. As principais demandas, diz ele, são poda, limpeza, iluminação pública e conservação, a cargo da prefeitura, além de segurança, responsabilidade do estado.
— Se a segurança tiver melhoria significativa, assim como a economia do estado, o bairro vai melhorar. O fato de o governador ser daqui pode ajudar a agilizar o atendimento de demandas que são da prefeitura — acredita.
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