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Avião que caiu em Vinhedo perdeu 3.300 metros de altitude em menos de um minuto

Por Folha de São Paulo

09/08/2024 20h00 — em
Variedades



SÃO PAULO, SP E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O avião de médio porte que caiu nesta sexta-feira (9) em Vinhedo, no interior de São Paulo, perdeu 3.300 metros de altitude em menos de um minuto a partir das 12h21. A informação é do site Flight Aware, que monitora voos em tempo real ao redor do mundo.

Registros mostram que o turboélice comercial bimotor de médio porte da Voepass decolou às 11h59 de Cascavel, no Paraná, e começou a perder altitude às 13h20, quando estava a cerca de 5.100 metros. Cerca de um minuto depois, atingiu 1.798 metros, a última atualização disponível. Segundo a FAB (Força Aérea Brasileira), a perda de contato com o radar ocorreu às 13h22.

As imagens da queda, feitas a partir do solo mostram, que a aeronave perdeu sustentação no ar e desceu em queda livre. Nas primeiras horas após o acidente, especialistas em aviação ouvidos pela reportagem levantaram duas hipóteses principais para o caso com base nos primeiros detalhes, ressaltando que é cedo para determinar as causas.

A maneira como o avião caiu, girando levemente no ar e em posição horizontal, manobra conhecida como "parafuso chato", indica, segundo especialistas, que o piloto havia perdido o controle da aeronave e as condições de arremeter -ou seja, apontar o nariz da aeronave para baixo e usar os motores para ganhar novamente sustentação no ar. Os vídeos reforçam a probabilidade de um problema de tração, ou seja, de ar circulando a partir das turbinas em direção à cauda.

O especialista em segurança de voo Roberto Peterka levanta a possibilidade de que gelo tenha se acumulado nas asas da aeronave. Já o engenheiro Hildebrando Hoffman, professor aposentado de Ciências Aeronáuticas da PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), levanta a hipótese de que tenha ocorrido uma falha na posição das hélices.

Eles descartam a possibilidade de falha elétrica ou no motor, pois há sistemas auxiliares que normalmente não fariam com que o avião caísse em queda livre, como se vê nas imagens. A pane seca também está descartada, uma vez que houve queima de combustível no solo, após a queda.

"Esse avião voa num nível [de altitude] onde tem muito gelo, então pode ser que o gelo tenha se acumulado nas asas e alterado o perfil de sustentação. Assim, ele perde a velocidade e a sustentação, e vem abaixo ", diz Peterka.

O nível em questão é uma altitude entre 15 mil e 20 mil pés. Aviões de maior porte costumam alcançar alturas mais elevadas, até 40 mil pés. As condições do tempo podem ter contribuído para a formação de gelo, segundo o especialista.

O avião era um turboélice modelo ATR-72, fabricado pela empresa franco-italiana ATR (Avions de Transport Régional). Foi fabricado em 2010, segundo o registro aeronáutico da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). Operado pela Voepass, antiga Passaredo, levava 57 passageiros e quatro tripulantes. Ninguém sobreviveu, segundo a companhia aérea.

O voo 2283 saiu de Cascavel (PR) com destino ao aeroporto de Guarulhos (SP). O pouso estava previsto para as 13h54.

Aviões do modelo ATR-72 têm sistemas para prevenir a formação de gelo, ressalta o engenheiro Hildebrando Hoffman. Um dos recursos antigelo, ele afirma, permite injetar ar quente que sai dos motores em câmaras de borracha em partes críticas do avião para evitar a formação de gelo.

Hoffman também diz que chama atenção o fato de que asas e estabilizadores aparecem nas imagens aparentemente íntegros, ou seja, nenhum pedaço importante do avião parece ter se quebrado antes da queda. Isso, segundo ele, afasta a hipótese de um problema aerodinâmico.

"Essa situação [o modo como o avião caiu] se deve fundamentalmente porque por algum motivo ele deixou de ter tração, os motores deixaram de funcionar em regime normal", diz Hoffman. "Ele perdeu a tração e veio em queda livre praticamente na vertical, girando. Isso pode ter ocorrido porque algo aconteceu com o sistema de hélices, que precisa estar numa posição correta para causar tração."

O Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), da Força Aérea Brasileira, informou que recuperou a caixa-preta do avião que caiu na tarde desta sexta-feira (9). O acidente foi considerado de alta complexidade e havia uma preocupação de que altas temperaturas pudessem ter danificado os equipamentos.

A unidade de São Paulo, Cenipa 4, afirmou que conseguiu encontrar um equipamento que grava vozes da cabine e outro que contém dados do voo como altitude, meteorologia e velocidade, entre outros. Durante uma entrevista coletiva, o chefe da Seção de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos, brigadeiro do ar Marcelo Moreno, afirmou ainda que os instrumentos serão encaminhados para a capital federal, onde há um laboratório de análise desses materiais.

Segundo a FAB, a tripulação não declarou emergência e nem reportou estar sob condições meteorológicas adversas. A Anac informou ainda que, de acordo as informações colidas até a noite desta sexta, a aeronave estava em situação regular, com a renovação do certificado de aeronavegabilidade prevista para junho de 2026.

"A aeronave estava regular, em todas as condições de aeronavegabilidade. Temos a rastreabilidade desde que a aeronave foi construída e isso será levantado e a informação será prestada à investigação feita pelo Cenipa", disse o diretor da Anac Luiz Ricardo afirmou.


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