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Clima durante ascensão de Império Chinês foi estável e favoreceu a agricultura, aponta pesquisa

Por Folha de São Paulo

06/01/2025 9h15 — em
Variedades



SÃO CARLOS, SC (FOLHAPRESS) - Uma fase de clima excepcionalmente favorável, com calor e chuvas acima da média, pode ter impulsionado a ascensão da China imperial no século 3º a.C., de acordo com um estudo assinado por cientistas chineses e europeus. A bonança climática teria permitido o cultivo de regiões normalmente desérticas e ampliado a área propícia para as lavouras de arroz, entre outras vantagens para a civilização asiática.

Segundo os autores da pesquisa, o período de boas chuvas durou praticamente dois séculos seguidos, de 270 a.C. a 77 a.C., coincidindo, em larga medida, com o poderio das duas primeiras grandes famílias imperiais do país, a dinastia Qin e a dinastia Han Ocidental.

As conclusões foram publicadas recentemente em artigo no periódico especializado americano PNAS e derivam da análise de anéis de crescimento de árvores, uma das principais "máquinas do tempo" usadas pelos arqueólogos para reconstruir as condições ambientais do passado.

Ocorre que, em muitas regiões do globo, o crescimento do tronco das árvores é marcado pela formação de anéis concêntricos de madeira (visíveis, é claro, apenas quando o tronco é cortado). Em geral, a cada ano de crescimento corresponde um anel, e características como a largura deles ajudam a estimar se a árvore teve um bom ano —digamos, com uma fase de crescimento longa e um inverno ameno.

A equipe do novo estudo, liderada por Bao Yang, da Academia Chinesa de Ciências, e Nils Stenseth, da Universidade de Oslo, na Noruega, teve acesso aos primeiros dados de anéis de crescimento de árvores a ficarem disponíveis para o norte da China, área mais importante para a formação das primeiras dinastias imperiais do país.

E os resultados não poderiam ser mais taxativos. Os anéis de árvores indicam que, entre os séculos 3º a.C. e 1º a.C., o norte da China costumava contar com primaveras e verões altamente favoráveis ao crescimento das árvores, e com pouca variabilidade, o que significa que anos frios e secos eram muito raros.

Além disso, a composição de isótopos (variantes de elementos químicos) usada para estimar a umidade indica que a chuva na região, durante esses séculos, era entre 18% e 34% mais abundante do que as condições prevalentes hoje.

Na prática, isso significa que o território chinês ganhou uma faixa extra de áreas cultiváveis com largura entre 100 km e 200 km na sua fronteira noroeste. E, nas regiões já normalmente férteis, registros escritos indicam que o cultivo do arroz, cereal que em geral se adapta mais a terrenos alagados, pôde se expandir em áreas que normalmente não eram propícias para ele.

É possível afirmar que essa melhoria das condições agrícolas causou o surgimento dos primeiros impérios chineses? Obviamente existem outros fatores por trás da formação de um governo imperial, mas, na Antiguidade, a produção agrícola abundante era um dos elementos chave para abastecer os exércitos e a burocracia necessários para a manutenção de um império.

Coincidência ou não, dizem os autores do estudo, o cenário na China está se revelando muito parecido com o da ascensão de Roma. Mais ou menos no mesmo período, o Mediterrâneo ocidental vivia o chamado Ponto Ótimo Climático Romano, um momento semelhante de calor e chuvas abundantes que favoreceu a agricultura na Itália e teria sido um dos elementos responsáveis por impulsionar a formação do Império Romano.


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