Com orçamento recorde, Nunes se propõe a tirar metas de Bruno Covas do papel
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Eleito prefeito de São Paulo pelos próximos quatro anos, Ricardo Nunes (MDB) conta com orçamento recorde para pavimentar a sua gestão, depois de assumir a administração do município em decorrência da morte de Bruno Covas (1980-2021).
Para o ano de 2025, Nunes lista como prioridades a inauguração de cinco CEUs (Centros Educacionais Unificados), cinco UPAs (Unidade de Pronto Atendimento) e cinco UBS (Unidades Básicas de Saúde).
À reportagem, o prefeito ainda se comprometeu entregar, ao longo do mandato, o complexo de túneis Sena Madureira, a ligação viária Pirituba/Lapa, a duplicação da ponte Interlagos, dos BRTs (Bus Rapid Transit) da Radial-Leste e da Aricanduva, o VLT do Centro, as extensões das avenidas Marquês de São Vicente e da José Aristodemo Pinotti (em São Miguel Paulista), além de dez piscinões em locais afetados pelas enchentes.
Com R$ 125,7 bilhões em receitas em 2025, Nunes terá o maior orçamento da história. O valor é 12% maior que o aprovado para 2024, que foi de R$ 111,8 bilhões. Em 2021, no primeiro ano da gestão Nunes, as receitas foram de R$ 68 bilhões (R$ 87 bilhões, em valores atualizados).
Na campanha eleitoral, como o jornal Folha de S.Paulo mostrou, o emedebista apresentou plano de governo para 2025 a 2028 tomado por generalidades como "expandir" a rede de saúde e "escalar" seu programa de moradias. Não há, por exemplo, nem neste plano nem na PLOA (projeto de lei orçamentária) do ano que vem propostas específicas para a cracolândia.
Parte destas obras, como os CEUs, piscinões e os BRTs, estavam previstas entre as 86 promessas do Programa de Metas da prefeitura estabelecido para o quadriênio de 2021 a 2024 e, na época, editado por Covas, que morreu em maio de 2021.
Desde quando assumiu o paço municipal, Nunes promoveu mudanças no programa, desistindo de algumas propostas, e não conseguiu cumprir ao menos 15 metas até o final de dezembro. Entre as promessas não cumpridas no primeiro governo, estão a de entregar 12 CEUs somente 5 ficaram prontos.
Outras duas prioridades de Nunes para 2025, as inaugurações do primeiro Centro para Pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo (Centro TEA) e da Casa de Cultura Cidade Ademar, também constam no programa, mas com as obras ainda em andamento.
Nunes diz, agora, que serão entregues "mais três centros TEA" no seu segundo mandato.
Ao reeditar o Programa de Metas em abril de 2023, Nunes retrocedeu, por exemplo, ao trocar o verbo "implantar" por "viabilizar" corredores de ônibus no modelo BRT (Bus Rapid Transit) na avenida Aricanduva e na Radial Leste.
A própria gestão admitiu que dificilmente conseguiria entregar as obras até 2024. "Tais intervenções geram impactos sociais e demandam tempo para cumprir as exigências legais, por exemplo, avaliação dos locais e diálogo com a comunidade, de modo a minimizar possíveis transtornos", disse a Secretaria de Comunicação.
Levantamento feito pela Rede Nossa São Paulo mostra que os moradores na zona leste, onde ficam a avenida Aricanduva e a Radial Leste, levam três horas por dia, em média, para se locomover na capital.
Quanto aos piscinões, Covas havia se comprometido a fazer 14 deles, e a gestão Nunes entregou somente 5. Na revisão do programa, a administração substituiu a construção de piscinões por 230 obras no sistema de drenagem. "Estou com 8 piscinões em obras, devemos concluir 10 no novo mandato", diz o prefeito.
As obras para o BRT Radial Leste começaram em novembro e devem custar R$ 386 milhões. A conclusão está prevista para fevereiro de 2026.
Com 9,8 km de extensão, ele conectará o terminal Parque Dom Pedro 2º à estação Penha e, de acordo com a prefeitura, deverá contemplar quase 400 mil pessoas por dia. "Teremos o primeiro BRT da cidade de São Paulo. Depois virá o VLT do Centro, um conjunto de ações de mobilidade na nossa cidade", afirma Nunes.
Já o BRT Aricanduva ainda está em fase de licitação e, de acordo com o PLOA de 2025, com investimentos de R$ 468 milhões. O BRT Aricanduva, diz a prefeitura, terá 13,6 km de extensão, indo da Radial Leste até o Terminal São Mateus, na zona leste.
Os gastos com a construção dos BRTs devem ser bancados pela pasta de Mobilidade e Trânsito, cujo orçamento para o ano que vem será de R$ 11,1 bilhões. É a terceira secretaria com mais receita, atrás apenas de Educação (R$ 22,9 bilhões) e Saúde (R$ 21,6 bilhões).
Quase metade do orçamento da pasta de Mobilidade e Trânsito está comprometido com os subsídios pagos às empresas de ônibus como forma de compensação tarifária.
"O valor [R$ 6,5 bilhões] também contempla gratuidades instituídas no município para a redução de desigualdades e a ampliação de acesso universal a espaços e serviços públicos, com tarifa zero aos domingos e a expansão do benefício a públicos específicos nos outros dias da semana", diz a gestão na proposta orçamentária.
A verba para Educação teve uma queda se comparada com os R$ 25,8 bilhões de 2024. A pasta está à frente de dois dos maiores desafios para o prefeito em seu segundo governo, o de ampliar a alfabetização de crianças matriculadas em São Paulo e o de melhorar a avaliação da rede municipal no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação), que é o principal indicador de qualidade da educação básica do país.
Na proposta orçamentária, Nunes prevê destinar 75% (R$ 19,4 bilhões) para educação infantil (R$ 11,1 bilhões), básica (R$ 1,8 bilhão) e ensino fundamental (R$ 6,5 bilhões). Outros 15% da Educação estão reservados para gastos com previdência básica.
"Os esforços estão concentrados na ampliação das vagas nas regiões periféricas, onde há muita demanda, e considerando que a permanência das crianças pequenas na creche melhora sensivelmente sua qualidade de vida e seu desenvolvimento", escreveu o prefeito no caderno do Orçamento.
"Já para o ensino fundamental, há previsão de R$ 15 milhões em investimentos na construção, ampliação, reforma e requalificação de escolas."
No ranking Criança Alfabetizada, do Ministério da Educação, São Paulo ocupa a 21ª posição entre as capitais, com apenas 37,9% dos alunos do 2º ano alfabetizados. A meta prevista pelo MEC é de 44,3%.
No Ideb 2023, a rede paulistana teve queda nos anos iniciais do ensino fundamental, de 5,7, em 2021, para 5,6 no ano passado. Em 2019, antes da pandemia, a média era 6. Com os resultados do ano passado, São Paulo não atingiu a meta e ficou abaixo da média nacional das escolas públicas nesta etapa.
Nos anos finais do ensino fundamental, a rede municipal ficou estagnada em relação a 2019.
"Realmente a gente precisa melhorar a questão do ensino inicial", admitiu Nunes em setembro de 2024, na sabatina realizada pela Folha/UOL durante a corrida eleitoral à prefeitura.
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