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Cotas trans não vão tirar vagas da ampla concorrência, diz Unicamp

Por Folha de São Paulo

09/04/2025 12h45 — em
Variedades


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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - As cotas para pessoas trans, travestis e não binárias aprovadas pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) não irão tirar vagas da chamada ampla concorrência do vestibular.

Para essa nova reserva de vagas, aprovada na semana passada pela universidade, os candidatos devem se inscrever pelo sistema Enem-Unicamp, atualmente restrito a estudantes de escolas públicas.

A partir de agora, haverá duas exceções, conforme explica à reportagem o coordenador da comissão de vestibular da Unicamp, José Alves de Freitas Neto: no caso de pessoas trans, travestis ou não binários e no de pessoas com deficiência, as cotas valem também para estudantes de escolas particulares.

A ampla concorrência do vestibular da Unicamp é voltada a alunos da rede privada e de escolas públicas –esses últimos recebem uma bonificação na nota. A ampla concorrência reserva 15% das vagas para pretos, pardos e indígenas (PPI), que podem ser tanto de escolas públicas quanto de particulares.

Já o sistema Enem-Unicamp distribui 10% das 3.340 vagas da Unicamp, todas elas para estudantes de escolas públicas, sendo que a metade é para PPI. É no universo do Enem-Unicamp que irão se enquadrar as cotas para pessoas trans, travestis e não binárias, além de pessoas com deficiência (PCD).

O Enem-Unicamp distribuía anteriormente 20% das vagas da Unicamp, mas, desde o ano passado, esse montante foi dividido com o Provão Paulista, vestibular seriado feito nas escolas públicas de São Paulo. O provão, portanto, distribui 10% das vagas da universidade, com metade desse número reservada para PPI.

Segundo José Alves de Freitas Neto, os cursos tentarão criar vagas adicionais para as cotas trans. Quando isso não for possível, explica, haverá uma redistribuição das vagas do sistema Enem-Unicamp. "A expectativa é que tenhamos 120 vagas para pessoas trans, travestis e não binárias, sendo que aproximadamente 80 deverão ser adicionais/novas", afirma ele, que, além de coordenar o vestibular da Unicamp, preside o grupo de trabalho que elaborou a nova política de cotas.

Pela regra, cursos com até 30 vagas deverão reservar uma vaga para trans. Para os que têm mais de 30, serão duas vagas (uma delas para trans que seja PPI). Os candidatos deverão se autodeclarar trans, travestis ou não binários e escrever um texto com um relato de vida, que será submetido a uma comissão de verificação.

O diretor lamentou a ofensiva de militantes de direita contra as cotas, que foram ao campus e filmaram banheiros neutros (destinados a qualquer pessoa, independentemente do gênero), arrancaram cartazes de murais do movimento trans e provocaram alunos e professores.

"A universidade é um espaço de acolhimento, de diversidade, onde todas as vozes devem conviver e aprender a dialogar. Em linha com sua defesa dos direitos humanos, a Unicamp tem buscado atender grupos sub-representados, e por isso houve aprovação de políticas para pessoas trans e para pessoas com deficiência."

Segundo ele, "a Unicamp tem hoje um número bem pequeno de pessoas trans, aproximadamente 0,2%". "Também há a questão da vulnerabilidade social, que justifica as cotas. A expectativa de vida dessas pessoas é de 35 anos, no caso dos brancos, e 28 para pretos e pardos. A escolaridade pode ser um caminho para a inserção dessas pessoas no mercado de trabalho."


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