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De lados opostos, vereadoras negras reeleitas lamentam falta de mulheres na política

Por Folha de São Paulo

11/10/2024 19h30 — em
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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - As duas mulheres negras reeleitas para a Câmara Municipal de São Paulo, Luana Alves (PSOL) e Sonaira Fernandes (PL) estão de lados opostos na política partidária.

Luana, 30, é psicóloga formada pela USP (Universidade de São Paulo) e tem os movimentos negro, feminista e LGBTQIA+ como bandeiras. Uma de suas principais plataformas é a educação popular nas periferias por meio de cursos pré-universitários gratuitos.

Nascida em Santos, litoral paulista, ela mais que dobrou a votação que teve em 2022. Saltou de 37.550 para 83.262. Foi a oitava mais votada neste pleito.

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"Para mim, claro que é uma honra estar nesse lugar, é fruto de muito trabalho coletivo de muitas mulheres negras, que estão ao meu lado, mas também mostra o atraso histórico da política brasileira que é representado por esse dado da Câmara Municipal de São Paulo", afirmou.

Durante o mandato aprovou leis de combate à violência obstétrica, pela valorização dos trabalhadores da saúde, de capacitação aos professores para promoção da igualdade racial, entre outras.

"Foram anos de muito enfrentamento. Não é fácil ser uma vereadora de oposição, ainda mais sendo mulher preta. Mas eu tenho muito orgulho, mesmo tendo que ser ponta de lança de oposição, foi possível a gente avançar no antirracismo, na defesa da Saúde, no fortalecimento de movimentos sociais de educação popular, de moradia, e de cultura", elencou.

Sonaira, 34, defende pautas voltadas para a liberdade econômica dos pequenos empreendedores e trabalhadores, da família, da fé e dos princípios cristãos. Em 2023, ainda no Republicanos, assumiu a Secretaria Estadual de Políticas para a Mulher no governo Tarcísio de Freitas.

Em seu mandato, aprovou leis como a que retirou a necessidade de que os estandes de tiro tivessem distância mínima de qualquer outra atividade; outra para incluir o Dia da Bíblia no calendário de eventos do município; e a criação do Dia de Luta das Mães de Deficientes, o da Conscientização sobre Doenças Raras e Autoimunes e do Teste do Pezinho.

Sonaira também teve aumento expressivo na votação. Saiu de 17.881 em 2020, quando estava no Republicanos, e alcançou 33.957 neste ano. Ficou na 45ª posição os nomes mais escolhidos pelos eleitores em 2024.

"A minha reeleição aconteceu mediante muito trabalho. Nós fizemos um trabalho mesmo de entrega do que nós nos comprometemos, de defesa daquilo que a gente acredita durante esses quatro anos", afirma Sonaira, nascida em Riachão do Jacuípe, na Bahia.

Apesar de não considerar a questão racial, ela também aponta falta representatividade feminina na política.

"Eu vou muito na linha da representatividade feminina. Principalmente depois que eu passei pela Secretaria da Mulher, a gente percebe que essa ausência ainda é muito marcante. Mas eu confesso para você que eu não me atenho à questão da etnia, eu acredito que o trabalho em defesa do público feminino tem que ser porque é mulher, independente de qualquer preferência, de cor, de raça, de preferência sexual. Nós temos que entender que ainda existe uma desigualdade muito grande na representação no poder político", afirma.

As duas vereadoras são as primeiras mulheres negras de que se tem registro oficial a se reelegerem para a Câmara Municipal. O Legislativo paulistano não tem um levantamento oficial sobre o tema, mas uma linha do tempo no site da Casa mostra todas as mulheres que passaram por lá desde 1952 -a primeira com participação feminina.

Pelos dados do TRE (Tribunal Regional Eleitoral), as duas vereadoras foram as únicas negras reeleitas levando em consideração os pleitos de 2020 e 2024. Na disputa de 2016, segundo o órgão, não há registro de candidatas negras eleitas.

A declaração da "cor/raça" no registro de candidatura passou a ser feita nas Eleições de 2014, conforme determinado no artigo 26 da Resolução TSE 23.405/2014.


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