Delator do PCC acusa policiais de extorsão ao se apropriaram de sítio no interior de SP
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um delegado e três investigadores da Polícia Civil de São Paulo são acusados de terem se apropriado de um sítio no interior de São Paulo de propriedade de Vinicius Gritzbach, delator do PCC que foi assassinado na saída do aeroporto de Guarulhos em novembro. Os policiais foram alvos de mandados de prisão durante operação na manhã desta terça-feira (17).
Em trecho de delação premiada de Gritzbach, que embasou os pedidos de prisão, ele acusa o delegado Fábio Baena e o investigador Eduardo Monteiro de terem apreendido o documento de compra e venda do imóvel, localizado em Biritiba Mirim, no interior de São Paulo, durante o cumprimento de um mandado de busca e apreensão em sua casa.
A defesa de Baena e Monteiro disse que a prisão dos dois é arbitrária.
Na época, o delator era investigado pela equipe de Baena no DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) pela participação no assassinato de Anselmo Becheli Santa, o Cara Preta, e de seu motorista, Antônio Corona Neto, o Sem Sangue, ligados ao crime organizado na zona leste de São Paulo.
Segundo Gritzbach, com o documento em mãos, os policiais Rogério de Almeida Felício, o Rogerinho, e outro identificado como Flavinho, integrantes da equipe de Baena, ameaçaram o antigo proprietário a passar o imóvel para o nome de uma pessoa ligada a eles. Caso contrário, ele seria inserido em inquérito de lavagem de dinheiro. No documento, o sítio foi vendido a Gritzbach por R$ 571.860, em novembro de 2022.
O esquema foi registrado em conversas gravadas por Gritzbach com os policiais. Em um trecho, ele diz ao delegado que "tem conversa que o Flavinho tomou o sítio, vendeu o sítio". Em seguida, o delegado não comentou o assunto e continuou a conversa, segundo a delação.
Uma semana antes de ser executado no aeroporto de Guarulhos, quando voltava de uma viagem a Maceió (AL), Gritzbach relatou à divisão de crimes funcionais da Corregedoria da Polícia Civil que o delegado Baena e o investigador Monteiro receberam R$ 1 milhão para livrarem um dos acusados do inquérito sobre os assassinatos de Cara Preta e Sem Sangue.
Antes de ser investigador, Monteiro atuava como policial militar no 18º Batalhão, onde atuavam os militares que faziam a escolta de Gritzbach no dia em que foi executado no aeroporto.
O investigador é sócio de duas empresas, MD Construções e Baronesa Motors Ltda., uma concessionária de veículos de luxo localizada em Bragança Paulista, no interior de São Paulo. Segundo os investigadores, "são por ele utilizadas possivelmente para dissimular a origem ilícita de bens, direitos e valores".
Delação
Delator do PCC (Primeiro Comando da Capital) e de policiais, Gritzbach fez denúncias contra policiais civis à Corregedoria do órgão, e foi assassinado ao voltar de uma viagem ao Nordeste. Embora tivesse uma escolta particular formada por quatro policiais militares, apenas dois agentes, que não reagiram, estavam próximos dele no momento.
Em um acordo de delação premiada, ele acusou policiais civis de exigirem R$ 40 milhões em troca do encerramento do inquérito que investigava sua participação na morte de dois integrantes da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).
Gritzbach era o principal suspeito de ser mandante do assassinato de Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta, em dezembro de 2021 na zona leste de São Paulo.
Como a Folha de S. Paulo mostrou, na lista de policiais delatados pelo empresário estão integrantes do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) e 24º DP (Ponte Rasa), na zona leste.
"Cujas condutas apuradas configuram, em tese, os crimes dos artigos 316 do Código Penal (concussão), artigo 317 do Código Penal (corrupção passiva), artigo 288 do Código Penal (associação criminosa), dentre outros", diz trecho de documento da Promotoria.
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