Ex-segurança de Tarcísio suspeito de elo com o PCC retorna à PM
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O capitão da Polícia Militar Diogo Costa Cangerana, ex-segurança do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), foi reincorporado à corporação após obter um habeas corpus expedido pela Justiça Federal.
Ele havia sido preso pela Polícia Federal em 26 de novembro, suspeito de envolvimento em um esquema de lavagem de dinheiro ligado à facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).
A decisão de soltura foi proferida pelo desembargador Maurício Kato em 18 de dezembro, que considerou ausente a necessidade de prisão preventiva, já que os crimes investigados teriam ocorrido em 2021 e 2022. A medida contraria entendimento da juíza Monica Aparecida Bonavina Camargo, que havia negado o pedido de liberdade sob o argumento de que os atos financeiros são complexos e envolvem grande volume de dados, e parecer do Ministério Público Federal que pediu a manutenção da prisão.
Na última segunda-feira (30), Cangerana foi designado para funções administrativas na Diretoria de Logística da PM, conforme publicado no Diário Oficial do estado. Ele permanece sob investigação da Corregedoria da PM, que apura as suspeitas levantadas pela Polícia Federal.
Procurada, a defesa de Cangerana não respondeu até a publicação deste texto.
Como parte das condições do habeas corpus, o capitão deve manter seu endereço atualizado, recolher-se em casa durante a noite e nos dias de folga, além de não deixar o país ou se ausentar de sua residência por mais de uma semana sem autorização judicial.
Segundo as investigações, Cangerana fazia parte de um grupo criminoso que utilizava fintechs para movimentar recursos ligados ao PCC. A organização mantinha contas em países como Estados Unidos, Panamá e China, e utilizava criptomoedas como a USDT, atrelada ao dólar, para realizar transações.
O Ministério Público Federal afirma que Cangerana pagava propina a policiais e gerentes de bancos para abrir contas de empresas de fachada, negociar limites de crédito e movimentar valores entre contas. Um cidadão chinês, apontado como líder do esquema, recebia pagamentos por meio de endereços digitais controlados pelo oficial, de acordo com a investigação.
A Polícia Federal estima que, ao todo, a quadrilha da qual o PM seria ligado movimentou R$ 6 bilhões em cinco anos. A investigação teve início em julho de 2023. A operação que levou Cangerana à cadeia prendeu também outras 15 pessoas, incluindo um delegado da Polícia Civil citado na delação do corretor de imóveis Vinicius Gritzbach, morto a tiros de fuzil no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, no início de novembro.
Cangerana trabalhou na Casa Militar por 14 anos e chegou a ser chefe da Divisão de Segurança de Dignitários do Departamento de Segurança Institucional. Em setembro passado, foi transferido para o 13º Batalhão da PM, responsável por atuar na região central da capital e na cracolândia.
Na Casa Militar, ele acompanhava o governador em agendas públicas e participou de viagens internacionais, como a visita a Portugal em junho de 2023 para tratar de investimentos com empresas estrangeiras. Em novembro, ao comentar a prisão do ex-auxiliar, Tarcísio havia citado a expressão "ato isolado", negou proximidade com o agente e disse que os que praticam desvio teriam a "pior punição possível".
Ao se manifestar, em nota, sobre o retorno do PM à corporação, o Palácio dos Bandeirantes declarou que "a Corregedoria da PM apura os fatos relativos à conduta do policial e permanece à disposição da Polícia Federal para colaborar com as investigações".
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