Compartilhe este texto

Fome atinge 8,4 milhões no Brasil, mostra estudo da ONU

Por Folha de São Paulo

24/07/2024 17h00 — em
Variedades



RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Um estudo de cinco agências da ONU mostra que cerca de 8,4 milhões de brasileiros passaram fome no Brasil entre 2021 e 2023. Os dados também indicam que, no mesmo período, o número de brasileiros em insegurança alimentar foi de 39,7 milhões, sendo que 14,3 milhões estavam em estado severo.

A FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) e agências parcerias lançaram nesta quarta-feira (24) a edição anual do relatório "O Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo". Trata-se do principal estudo da FAO e, neste ano, a divulgação oficial ocorre no Rio de Janeiro, como parte do lançamento da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, principal projeto brasileiro no G20.

A organização caracteriza a fome como desnutrição crônica.

Em relação à edição anterior, que trouxe dados do período 2020-22, o Brasil registrou avanços, principalmente na redução da insegurança alimentar. O número de brasileiros em estado de desnutrição -população com dieta abaixo de níveis mínimos de consumo de energia- era de 10,1 milhões. Já o total em insegurança alimentar era de 70,3 milhões.

A insegurança alimentar no Brasil, no entanto, ainda está acima do período de 2014 a 2016. O total da população nessa situação era de 27,2 milhões.

Durante a cerimônia de divulgação do estudo, o ministro Wellington Dias (Desenvolvimento e Assistência Social), apresentou dados anualizados -o estudo da ONU usa o padrão triênio para identificar tendências.

De acordo com ele, a insegurança alimentar severa caiu 85% no Brasil em 2023. Segundo os dados anualizados, o número de pessoas nessa situação passou de 17,2 milhões em 2022 para 2,5 milhões no ano passado.

Ele disse ainda que houve redução de um ano para o outro na prevalência de desnutrição.

Nesse ritmo, o ministro afirmou que o Brasil tem condições de sair do Mapa da Fome da FAO ainda no atual mandato de Lula -o país voltou à categoria em 2018.

Apesar do desempenho do Brasil, ele disse que a situação global identificada pelo estudo."Mesmo com o fim da pandemia, o mundo no geral não está conseguindo retomar os trilhos do combate à fome e à pobreza", afirmou.

O ministro também fez referência à gestão de Jair Bolsonaro (PL) ao afirmar que a alta na fome registrada nos últimos anos foi ocasionada por "um grande retrocesso político que comprometeu políticas e programas sociais"

O governo afirma que as melhoras nos índices são resultado do fortalecimento de políticas sociais sob Lula. Segundo os dados anualizados, a queda mais expressiva no triênio de fato ocorreu em 2023.

Houve uma redução menos intensa nos índices em 2021 e 2022.

Numa perspectiva internacional, o estudo da FAO revela que a fome permaneceu praticamente no mesmo nível durante os três últimos anos, depois de um pico na pandemia. Entre 713 e 757 milhões de pessoas podem ter passado fome em 2023, o que equivale a 1 entre 11 pessoas no mundo.

As estimativas para insegurança alimentar (moderada ou severa) são de 28,9% da população mundial, ainda segundo o estudo.

No recorte por país, a FAO também traz o percentual da população afetada pela fome entre 2021 e 2023.

No caso do Brasil, o índice de desnutrição foi de 3,9%. Para insegurança alimentar, a proporção é de 18,4%.

Além da FAO, o relatório é feito por Fida (Fundo de Desenvolvimento Agrícola), PMA (Programa Mundial de Alimentos), OMS (Organização Mundial da Saúde) e Unicef.

ERRADICAÇÃO NA FOME AVANÇA POUCO

O estudo traz um cenário de falta de avanços a poucos anos da meta da ONU de erradicar a fome até 2030. Destaca ainda que em todas as regiões do globo o principal indicador da FAO para monitorar fome ainda está acima dos níveis pré-pandemia.

"Há uma tendência clara de aumento do PoU [singla em inglês para prevalência de subnutrição] na África, enquanto há progresso sendo feito na América Latina e Caribe e estagnação na Ásia", diz o relatório.

"A falta de avanços na segurança alimentar e o progresso desigual no acesso econômico a dietas saudáveis lançam uma sombra sobre a possibilidade de se alcançar o objetivo da fome zero no mundo."

A desigualdade no acesso é vista na forma como a fome se espalha no mundo.

Países de renda baixa reúnem a maior proporção da sua população que não tem condições de arcar com os custos de uma dieta saudável (71,5%). No caso das nações de renda alta, o porcentual é de 6,3%.

O foco da atual edição foram mecanismos de financiamento de ações contra a fome.

Ela mostra que segurança alimentar e nutrição recebem menos de um quarto do fluxo total de assistência para o desenvolvimento. Esses recursos somam cerca de US$ 76 bilhões (R$ 424 bi) por ano, entre 2017 e 2021, dos quais apenas 34% foram destinados para o enfrentamento das maiores causas da insegurança alimentar e da desnutrição, segundo a FAO e as outras agências.

ENTENDA OS CRITÉRIOS DE FOME USADOS PELA ONU

Categoria - Definição

Fome - Situação de desnutrição crônica por falta das calorias necessárias para uma vida ativa e saudável

Insegurança alimentar moderada - Redução na qualidade e qualidade dos alimentos consumidos, além de incertezas sobre o acesso a comida

Insegurança alimentar severa - Falta de comida com a ocorrência de um ou mais dias sem comer, representando riscos para a saúde e o bem-estar

Segurança alimentar - Acesso físico e econômico a comida com nutrientes necessários para manter uma vida ativa e saudável

_Fonte: Escala de Experiência de Insegurança Alimentar/ONU_


Siga-nos no
O Portal do Holanda foi fundado em 14 de novembro de 2005. Primeiramente com uma coluna, que levou o nome de seu fundador, o jornalista Raimundo de Holanda. Depois passou para Blog do Holanda e por último Portal do Holanda. Foi um dos primeiros sítios de internet no Estado do Amazonas. É auditado pelo IVC e ComScore.

ASSUNTOS: Variedades

+ Variedades