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Influenciadores de ciência atraem milhões nas redes com experimentos e combate à fake news

Por Folha de São Paulo

10/08/2024 11h45 — em
Variedades



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em uma roda de conversa entre calouros e veteranos do curso de física da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), um aluno recém-chegado afirmou que escolheu aquele curso e aquela universidade porque era fã do canal Ciência Todo Dia, criado por Pedro Loos, 27, em 2013. "Naquele momento, eu percebi que meu trabalho estava atingindo um nível especial", relembra o criador de conteúdo, que também foi estudante da UFSC no mesmo curso de seu seguidor, apesar de não ter se formado.

Uma situação parecida acontece com Iberê Thenório, 42, criador do Manual do Mundo. Há 16 anos no ramo da divulgação científica na internet, ele já viu crianças que começaram a seguir seu canal na infância e se tornaram pesquisadores e professores universitários. "Nossa mão faz diferença, queremos que as pessoas se entusiasmem em aprender", diz o jornalista.

Loos e Iberê são alguns dos "milionários" da ciência no Instagram, ao lado de outras figuras como a bióloga Mari Krüger, 34. A rede social de fotos, que se tornou focada em vídeos curtos, é a segunda mais utilizada no Brasil, com 113,2 milhões de usuários, de acordo com o relatório Digital Report 2023, o mais recente, das agências We Are Social e Meltwater.

Por ali, Loos reúne uma audiência de 1,8 milhão de seguidores, enquanto o perfil do Manual do Mundo atinge 2,4 milhões e o de Krüger, 1,1 milhão, conquistados em 2024. Nas redes paralelas, como TikTok e YouTube -onde Loos e Iberê começaram-, os números também impressionam.

Seja em vídeos curtos ou mais longos na plataforma do Google, personalidades da internet que falam sobre ciência e o funcionamento do mundo influenciam a audiência ao desmentir fake news, oferecer dicas de experimentos científicos e explicar como as coisas funcionam.

"Essas pessoas têm um megafone digital na mão para falar certas coisas, existe responsabilidade sobre o que se fala", aponta Jacqueline Lafloufa, pesquisadora independente e mestre em comunicação e divulgação científica e cultural pelo Labjor da Unicamp (Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Universidade Estadual de Campinas).

Para acertar o tom e manter a acurácia do conteúdo, Iberê faz aulas particulares de física e conta com uma equipe para apuração e checagem. "Temos uma pequena Redação", afirma. Por trás das câmeras também está Mariana Fulfaro, terapeuta ocupacional e fundadora do Manual do Mundo ao lado de seu marido. "Ela faz mais vídeos relacionados à saúde e agora tem seu próprio perfil no Instagram", conta Iberê.

Loos também tem seu próprio comitê científico e jornalístico por trás das câmeras. "Meu objetivo é ser lembrado pela informação acurada", diz. "E, por isso, é importante ter humildade e saber que o linguajar acadêmico não é amplamente compreendido, então precisamos de ajuda."

A curiosidade sobre o mundo é o que move o criador a pensar em assuntos para os vídeos. "Acho que tenho uma mente muito fértil e muito criativa, gosto de muitas coisas diferentes", afirma. "A maior parte dos temas surge espontaneamente, às vezes quando estou no escritório, mas também no banho ou na academia."

Em 2018, a produção de conteúdo do canal ocupava quase todo o tempo de Loos, então ele tomou a decisão de formar uma equipe mais robusta e focar o trabalho de divulgação científica, em vez de se tornar, ele mesmo, um cientista.

"Quando eu comecei, a carreira de divulgador científico não era totalmente viável e existiam poucas oportunidades para acadêmicos que queriam fazer divulgação, então eu não tive a chance de fazer um curso, fui meio que aprendendo a fazer fazendo, com os meus erros e observando os dos outros", diz Loos.

Krüger também diz estar aprendendo enquanto exerce o ofício de divulgadora. Para a atriz, bióloga e DJ de formação, fazer caras e bocas e criar personagens para falar sobre ciência é a parte que ela tem maior facilidade. "Eu estudo do zero os assuntos novos que chegam, como se eu não soubesse nada sobre ele, porque muitas vezes eu não sei."

Para Lafloufa, os criadores de conteúdo nessa área, como Iberê, Loos e Krüger, encaixam-se, de certa forma, no conceito da "jornada do influenciador", que ela desenvolveu durante a sua pesquisa sobre o biólogo Átila Iamarino, e foi inspirado na jornada do herói, do escritor norte-americano Joseph Campbell (1904-1987). "São pessoas que deixam de ser internautas comuns, recebem um 'chamado à aventura' e começam a produzir conteúdo, estão em um processo, uma jornada", avalia.

Com mais de uma década de estrada, Loos e Iberê viram a internet e o comportamento dos espectadores mudarem ao longo do tempo e tentam equilibrar a qualidade do conteúdo com as demandas impostas pela lógica dos algoritmos, que favorece alguns tipos de conteúdo e personalidades.

"Nossa linha editorial não é reativa, nós não fazemos vídeos sobre as últimas trends ou os assuntos polêmicos do TikTok, nossa produção é ativa, fazemos conteúdos que vão durar o máximo de tempo possível", diz Loos.

Outra mudança importante no ambiente online que os produtores mais experientes enfrentaram foi o surgimento de uma onda mais forte de negacionismo. "Não era um movimento organizado, político, ninguém era pago para ser negacionista, então temos uma postura hoje no Manual de não responder a provocações", afirma Iberê. "Pessoalmente, nunca fui cancelado na internet, mas saí do Twitter (atual X) porque se tornou um ambiente que não fazia bem para mim."

Para todos, o aspecto da monetização do trabalho na produção de conteúdo sobre ciência é um dos maiores desafios. Para pagar as contas pessoais e dos negócios, eles fecham parcerias com empresas, institutos de pesquisa, universidades e, em alguns casos, marcas.

"Além de buscar evidências científicas dos produtos que eu aceito fazer publicidade, de não me associar a produtos milagrosos, eu sou vegana, então isso exclui muitas empresas", diz Krüger.

Os critérios de compromisso com a ciência e com a ética também são importantes para Iberê e para Loos. "Da mesma maneira que julgo uma pessoa se ela age de uma maneira com a qual eu não concordo, eu julgo uma marca se ela não estiver alinhada com os meus valores que eu defendo", afirma Loos.

Raio-X dos 'milionários'

Iberê Thenório (Manual do Mundo)

Criação: 2008

Instagram: 2,4 milhões de seguidores

YouTube: 18,7 milhões de inscritos

TikTok: 3,5 milhões de seguidores

Pedro Loos (Ciência Todo Dia)

Criação: 2012

Instagram: 1,8 milhão de seguidores

YouTube: 5,3 milhões de inscritos

Tiktok: 1,6 milhão de seguidores

Mari Krüger

Criação: 2020

Instagram: 1,1 milhão

YouTube: 97,8 mil inscritos

TikTok: 775,5 mil seguidores


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O Portal do Holanda foi fundado em 14 de novembro de 2005. Primeiramente com uma coluna, que levou o nome de seu fundador, o jornalista Raimundo de Holanda. Depois passou para Blog do Holanda e por último Portal do Holanda. Foi um dos primeiros sítios de internet no Estado do Amazonas. É auditado pelo IVC e ComScore.

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