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Mulheres indígenas pedem a Biden apoio para manter a cultura ancestral e a floresta em pé

Por Folha de São Paulo

18/11/2024 20h15 — em
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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O encontro do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, com as lideranças indígenas em Manaus no domingo (17) rendeu promessas de preservação da floresta. Segundo a Casa Branca, esta foi a primeira visita oficial à amazônia de um líder americano em exercício.

Recebido com cânticos tradicionais de boas-vindas, o presidente conheceu mulheres consideradas como "guardiãs da amazônia" e ouviu delas as principais demandas dos povos originários para manter a floresta em pé.

Com o uniforme do Prevfogo, centro de combate a incêndios do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), a brigadista Simone Xerente, 39, pediu ao presidente americano que seu país coopere na luta pelo fim das queimadas e do desmatamento.

"Foi uma honra encontrar com ele (Biden). Eu me apresentei como brigadista. Pedi para ele nos ajudar a cuidar da amazônia", disse Xerente à reportagem. "Eu viajo pela amazônia inteira para combater o fogo. Estou na linha de frente."

Xerente integra há três anos uma brigada de combate a incêndios florestais exclusivamente feminina. O grupo é apoiado pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID, na sigla em inglês) e pelo Serviço Florestal americano.

"Ser uma brigadista feminina é poder ajudar as mulheres a conquistar outros espaços de trabalho. É cuidar da natureza e do nosso território para que nossos filhos e netos, e todos depois deles, tenham onde viver saudáveis e felizes", destacou.

Para a pesquisadora Altaci Kokama, professora do Instituto de Letras da UnB (Universidade de Brasília), a preservação da cultura indígena é fundamental para manutenção da floresta. Ela é a primeira representante dos povos originários a compor o quadro docente da instituição.

"As nossas expectativas estavam em torno do Fundo Amazônia e dos projetos locais de reflorestamento e de manutenção da floresta", relatou.

Na ocasião, o presidente Biden anunciou o aporte americano de mais US$ 50 milhões (R$ 289,5 milhões) no Fundo Amazônia, que é constituído por recursos -boa parte deles de origem internacional- para a conservação da floresta amazônica no Brasil.

Desse montante, Kokama quer que 10% seja destinado à cultura indígena, principalmente para a manutenção dos 274 idiomas ainda falados nas aldeias, que guardam conhecimentos não traduzidos sobre plantas medicinais e produtos extraídos da natureza.

"Em uma única língua indígena há mais de 2.500 conhecimentos sobre plantas medicinais. Isso, só no noroeste da amazônia. É por meio das línguas que nós temos todos os conhecimentos que mantêm a biodiversidade do planeta", frisou a pesquisadora.

Outro ponto defendido por Kokama foi a demarcação de terra indígena como medida de preservação dos biomas brasileiros. Para ela, o fortalecimento político das pautas indigenistas e ambientais deveriam ser prioridades dos chefes de Estado, que agora se reúnem no G20.

Kelliane Wapichana, 33, tuxaua (liderança) do Movimento de Mulheres Indígenas do CIR (Conselho Indígena de Roraima), conta que agradeceu ao presidente norte-americano os resultados da parceria com a USAID, sobretudo as ações voltadas para jovens, mulheres e para os PGTAs (Planos de Gestão Indígena das Terras Indígenas).

Sobre o repasse de 50 milhões do presidente ao Fundo da Amazônia, Wapichana relata que pretende acompanhar de perto para que "sejam implementados, de fato, e colocados para as comunidades, para a amazônia fazer as ações".

Wapichana contou, ainda, que Biden perguntou sobre a luta das mulheres indígenas na preservação da floresta e teve como resposta o enfrentamento da tese do marco temporal, a qual os povos indígenas têm direito as terras que ocupavam ou já disputavam em 1988.

"Nós, povos indígenas, estamos em defesa das nossas vidas, do nosso território e das florestas. Para o enfrentamento das mudanças climáticas, as demarcações das terras indígenas são prioridades, isso é uma urgência", ressaltou Wapichana.

Na chegada ao Amazonas, Biden foi recepcionado no aeroporto pelo governador do estado, Wilson Lima (União Brasil), pelo prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), e pela chefe do escritório da representação do Itamaraty na região Norte, Maria Deize Camilo Jorge.

Biden estava acompanhado pela embaixadora dos EUA no Brasil, Elizabeth Frawley Bagley, pelo secretário de Estado, Antony Blinken, o conselheiro de Segurança Nacional, Jake Sullivan, o enviado especial para o clima, John Podesta, e o conselheiro presidencial para as Américas, Chris Dodd.

O democrata sobrevoou a região de helicóptero e discursou à imprensa no Musa (Museu da Amazônia). Também conversou com o cientista Carlos Nobre, reconhecido mundialmente por contribuições técnicas sobre mudanças climáticas e proteção da amazônia.

A passagem pelo norte do Brasil antecedeu a 19ª Cúpula de Chefes de Estado do G20, grupo das maiores economias do mundo, que ocorre na cidade do Rio de Janeiro nesta segunda (18) e nesta terça (19).


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