Não adesão a tratamentos aumenta internações evitáveis e sobrecarrega orçamentos, diz federação
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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A não adesão a tratamentos e a mudanças de estilo de vida, que atingem mais da metade dos pacientes de doenças crônicas, como hipertensão e diabetes, tem piorado os resultados de saúde, aumentado as internações evitáveis e sobrecarregado orçamentos de saúde em todo o mundo.

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O alerta é da Federação Mundial do Coração (WHF), que lançou nesta quinta (27), Dia Mundial da Adesão, um movimento global para a chamar a atenção sobre o problema.
"É um momento decisivo, e aumentar a conscientização é o primeiro passo para fechar essas lacunas críticas na assistência médica", diz o professor Jagat Narula, presidente da Federação Mundial do Coração, à reportagem.
No Brasil, estudos mostram que a adesão a tratamentos seguem as taxas globais, de 50% em média. Por exemplo, entre os jovens diagnosticados com hipertensão, 46% relatam que não realizam o tratamento, segundo dados da pesquisa Covitel de 2023.
Na Europa, a falta de adesão às terapias atinge metade dos doentes crônicos e causa 200 mil mortes todos os anos. Aumentar as taxas de adesão para 70% poderia levar a uma economia de mais de 330 milhões de euros (cerca de R$ 2 bilhões) ao longo de dez anos, segundo a WHF.
Nos Estados Unidos, a não adesão à medicação e a outras recomendações de saúde em pacientes com doenças crônicas levou a custos anuais por pessoa de até US$ 52.341 (R$ 378 mil) em um único ano, impulsionados pelo aumento de hospitalizações, visitas de emergência e atendimento ambulatorial.
Para Jagat Narula, as razões para a não adesão são complexas e envolvem desde estigma e barreiras de comunicação entre os profissionais de saúde e os pacientes até restrições financeiras.
No Brasil, segundo ele, pesquisas mostram que educação, acessibilidade e idade foram identificados como fatores-chave associados à baixa adesão ao tratamento medicamentoso para doenças crônicas.
Falhas na distribuição de medicamentos na rede pública de saúde e falta de mecanismos de acompanhamento, que, muitas vezes, dificultam que os profissionais de saúde monitorem a adesão dos pacientes também são apontados como entraves.
"Se os medicamentos não estiverem prontamente disponíveis ou não forem distribuídos de forma eficaz pelos sistemas de saúde pública, as chances de os pacientes interromperem seus tratamentos aumentam, o que geralmente resulta em efeitos adversos à saúde", afirma Narula.
No Brasil, o diabetes sem controle, por exemplo, é responsável por mais da metade das amputações que ocorrem no país.
De acordo com ele, o ônus financeiro dos tratamentos também afeta a adesão. "Em países de baixa renda, as restrições financeiras são um fator importante que impede os pacientes de acessar os tratamentos necessários.
Ele afirma que, para profissionais de saúde e cuidadores, garantir que os pacientes sigam seus planos de tratamento_incluindo medicamentos, dieta, exercícios e exames regulares_é uma tarefa árdua. "O tratamento não para no consultório médico", diz.
Para Narula, é preciso que sistemas e profissionais de saúde se concentrem em investigar as barreiras pessoais que afetam a adesão, incluindo desafios financeiros ou de estilo de vida.
Dados de uma pesquisa brasileira que investigou os motivos da não adesão a tratamentos mostra que a resistência está ligada ao fato de que muitas dessas doenças não apresentam sintomas. Entre os que iniciam um medicamento, quanto menor o tempo de uso, menor a percepção, a adesão e efetividade do tratamento.
Outra revelação do estudo é a percepção dos pacientes em relação aos serviços de saúde. Pessoas insatisfeitas tendem a ter menor adesão ao tratamento contínuo.
"Devemos também abrir um diálogo global que faça da adesão uma prioridade de saúde que merece um compromisso universal. Os profissionais de saúde devem receber mais treinamento, tempo e recursos para monitorar e promover a adesão de forma eficaz", diz Narula.
A Federação Mundial do Coração é uma organização presente em mais de cem países, representando a comunidade cardiovascular global e unindo grupos de pacientes, médicos, cientistas e da sociedade civil.

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