Norte da Itália tem terceira morte pelo novo coronavírus, fecha escolas e cerca 11 cidades
MILÃO, ITÁLIA (FOLHAPRESS) - Depois de registrar três mortes pelo novo coronavírus e confirmar mais de 150 casos positivos (até as 18h, hora local), o norte da Itália está vivendo dias cada vez mais atípicos: depois de um domingo sem futebol, a semana será sem escolas, museus e todo tipo de reunião coletiva, incluindo bares e missas.
Após a confirmação de que o vírus circula pelo país, ocorrida na noite de quinta-feira (20), a Itália já é o terceiro do mundo com o maior número de casos, ultrapassando o Japão, e atrás de Coreia do Sul e China, onde o novo coronavírus surgiu, em dezembro.
As medidas restritivas mais rigorosas foram anunciadas na tarde deste domingo (23) pelo governo da Lombardia, onde vivem 10 milhões de habitantes (o total da população italiana é de 60 milhões) e onde está concentrada a maioria dos casos, com mais de cem pessoas contaminadas.
Estão suspensas as atividades em todo o sistema de educação, do infantil ao pós-universitário, além de "toda forma de reunião em lugar público ou privado, inclusive de caráter cultural, lúdico, esportivo e religioso". O prazo é de sete dias, que pode ser prorrogado por mais sete.
Capital da Lombardia e centro financeiro da Itália, Milão já começou a sentir as mudanças. Escolas se apressaram para avisar as famílias do fechamento a partir desta segunda-feira (24) e centros culturais como a Pinacoteca di Brera e o Teatro alla Scalla anunciaram a interrupção das atividades. A catedral Duomo, principal ponto turístico da cidade, também será fechada.
A grife Armani realizou neste domingo seu desfile num galpão vazio, sem convidados, com apenas transmissão pela internet. Quatro partidas da série A foram adiadas, além de várias nas outras divisões.
Bares, discotecas, teatros e cinemas estão proibidos de funcionar após as 18h. Os restaurantes, por enquanto, não foram incluídos nas restrições, assim como os serviços e transportes públicos, que operam normalmente.
Apesar de relatos de filas em alguns supermercados neste domingo e da falta de máscaras faciais e álcool-gel nas farmácias, o clima entre os moradores se alterna entre surpresa e expectativa pelos próximos acontecimentos. O coronavírus domina as conversas dentro e fora das redes sociais.
"As iniciativas que estamos adotando são totalmente compatíveis com a situação. Estamos procurando reduzir as possíveis ocasiões que poderiam contribuir para a difusão do vírus", disse o governador Attilio Fontana.
Diferentemente do Brasil, o feriado de Carnaval no calendário italiano varia regionalmente e de acordo com cada escola. Em Milão, por exemplo, só a sexta-feira (28) era considerada feriado nos institutos infantis da prefeitura.
A determinação, especialmente a suspensão das atividades de educação, foi seguida pelas regiões do Piemonte, Vêneto, Ligúria e Emilia Romagna. Em Veneza, a tradicional festa de Carnaval foi cancelada a partir desta segunda, assim como as missas.
A Áustria decidiu bloquear o acesso aos trens que vão e que vêm da Itália.
Ao mesmo tempo, as 11 cidades consideradas como focos de contaminação, chamadas de "zonas vermelhas", começaram a ser fisicamente isoladas, com barreiras vigiadas pela polícia, após um decreto-lei aprovado pelo governo italiano.
São 35 pontos de controle na Lombardia, na área do Lodigiano, e 8 no entorno de Vo' Euganeo, no Vêneto. Cerca de 500 policiais vão fazer o controle de entrada e saída dos moradores, que estão proibidos de circular. A medida afeta 54 mil pessoas.
Esses locais registraram as primeiras mortes por coronavírus na Itália, na sexta (21) e no sábado (22), quando, respectivamente, morreram um homem de 78 anos e uma mulher de 77 anos.
Neste domingo, foi confirmado o terceiro óbito relacionado ao covid-19. Uma idosa que fazia tratamento oncológico morreu em Crema, também na Lombardia.
A Itália é o primeiro país da Europa a registrar mortes por contaminação interna. Antes, um turista chinês havia morrido na França.
As autoridades sanitárias italianas não sabem explicar como o vírus começou a circular no país. O fato foi confirmado na noite de quinta-feira (20), quando um italiano de 38 anos, com quadro agravante de gripe, testou positivo em Codogno (a 60 km de Milão).
A primeira suspeita era de que o contágio havia acontecido após esse paciente ter encontrado um amigo recém-chegado de Xangai, na China. No entanto, o amigo não teve resultado positivo para o vírus nem para anticorpos contra o vírus.
"Identificar o paciente zero faz cada vez menos sentido agora, mas continuamos investigando", afirmou neste domingo o secretário de Bem-estar da Lombardia, Giulio Gallera, que voltou a negar que o país esteja em pandemia.
"O esforço que estamos colocando em prática nos próximos dias, convidando as pessoas a ficar em casa, é para que esse fenômeno seja contido. Um fenômeno que não conhecemos direito, que não é particularmente agressivo, porém é transmitido rapidamente", disse Gallera.
Segundo o secretário, há evidências médicas de que 50% das pessoas contaminadas se recuperam facilmente, 40% precisam de medicamentos e 10% vão para terapia intensiva.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) manifestou preocupação com a situação italiana. O diretor europeu da organização, Hans Kluge, anunciou que enviaria uma equipe para a Itália para ajudar a esclarecer como os contágios aconteceram.
Antes das contaminações internas, a Itália havia registrado três casos de coronavírus: um casal de turistas chineses e um pesquisador italiano, todos provenientes de Wuhan, onde surgiram na China os primeiros casos. O italiano já está curado, enquanto o casal continua em tratamento em Roma, no centro do país.
Também na capital cumprem quarentena 56 italianos que estavam em Wuhan e foram repatriados e outras 19 pessoas que viajavam no navio Diamond Princess, ancorado por dias no Japão com mais de 600 casos confirmados de coronavírus. Eles também vão cumprir quarentena.
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