Nova secretária de Nunes articulou aliança internacional antiaborto sob Bolsonaro
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Nomeada secretária de Relações Internacionais da gestão Ricardo Nunes (MDB), na Prefeitura de São Paulo, a advogada Angela Gandra foi uma das lideranças do governo Jair Bolsonaro (PL) nas discussões para a criação de uma aliança internacional antiaborto.
Gandra atuou na cúpula do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, de 2019 a 2022, tendo sido levada ao cargo de secretária nacional da Família pela então ministra e atual senadora Damares Alves (Republicanos-DF).
A nova secretária da capital paulista é filha do advogado conservador Ives Gandra Martins.
O general Freire Gomes, ex-comandante do Exército, disse em depoimento à Polícia Federal que, em 2022, os bolsonaristas defensores de medidas golpistas contra a posse de Lula (PT) utilizavam "interpretações" do advogado sobre o artigo 142 da Constituição como uma espécie de suporte jurídico. Ives Gandra nega que a sua leitura do artigo poderia justificar um golpe.
Sob Bolsonaro, o Brasil aderiu em 2020 à Declaração do Consenso de Genebra, cujo texto afirmava que "a família é a unidade natural e fundamental da sociedade", em que a mulher "desempenha um papel crítico" e que "o aborto jamais deve ser usado para fins de planejamento familiar".
O governo brasileiro chegou a ocupar o secretariado da aliança internacional ultraconservadora. Em novembro de 2022, Angela Gandra discursou no Senado dos Estados Unidos na sessão alusiva aos dois anos da declaração.
O governo Lula se retirou do grupo antiaborto em janeiro de 2023, nos primeiros dias da gestão petista. A justificativa, expressa em nota conjunta das pastas de Relações Exteriores, Saúde, Mulheres e Direitos Humanos e Cidadania, é de que o texto "contém entendimento limitativo dos direitos sexuais e reprodutivos e do conceito de família e pode comprometer a plena implementação da lei nacional sobre a matéria".
Ao assumir a secretaria da Família de Bolsonaro, em 2019, Angela Gandra disse que chamou a atenção de Damares e foi escolhida ao cargo após representar a União dos Juristas Católicos de São Paulo no debate que o STF (Supremo Tribunal Federal) promoveu sobre descriminalização da interrupção da gravidez até a 12ª semana de gestação.
Na cerimônia de posse para o segundo mandato como prefeito, Nunes disse que a "ideologia nunca pode ser mais importante do que o dia a dia", mas fez agradecimentos a Bolsonaro e ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), a quem chamou de "um grande amigo".
Após o evento, Nunes disse que a advogada "tem uma relação muito boa com o mundo". Ao lado do prefeito, ela afirmou que deseja "continuar inserindo" São Paulo "em todo o contexto internacional".
Em nota, a gestão Nunes afirmou que a nova equipe "representa um governo de frente ampla, plural e democrático, aprovado nas urnas na eleição municipal", e que posições pessoais não interferem nas políticas públicas.
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