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Nunes agradece a Bolsonaro, fala em pacificar o Brasil e diz que quer ser 'agente da moderação' em novo mandato

Por Folha de São Paulo

01/01/2025 21h15 — em
Variedades



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Ricardo Nunes (MDB) tomou posse para um novo mandato como prefeito de São Paulo nesta quarta-feira (1º). Aos 57 anos, ele é o décimo prefeito a comandar a capital paulista desde a redemocratização do país.

A cerimônia -que também deu posse ao vice-prefeito, Ricardo Mello Araújo (PL), e aos vereadores- ocorreu no Palácio Anchieta, sede da Câmara Municipal. A sessão foi presidida pelo vereador Eliseu Gabriel (PSB), por ser o parlamentar mais velho da Casa.

O discurso de início de segundo mandato do prefeito foi marcado por uma tentativa de moderação, sem deixar de lado o seu agradecimento pessoal ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), a quem chamou de "um grande amigo".

"A humildade deve guiar nossos passos. É o meu pensamento. Nenhuma diferença pode ser maior do que a convergência a favor do povo dessa cidade. Nada pode interferir quando o que está em jogo é o bem-estar da população. A ideologia nunca pode ser mais importante do que o dia a dia."

"Podem contar comigo para tudo que for diálogo, solução e resolução de impasses. O Brasil precisa ser pacificado consigo mesmo. Onde reina o trabalho, não reina a discórdia. Onde reina a colaboração, não reina a divisão. Onde reina o propósito, não reina o confronto. São Paulo e o Brasil podem contar comigo como um agente da moderação e do diálogo leal e democrático", disse Nunes.

Nunes afirmou que é o primeiro prefeito da história da cidade que veio da periferia e se descreveu como "um homem das antigas, que cumpre o que é tratado no fio do bigode".

Ele também repetiu três vezes uma frase de seu antecessor, Bruno Covas: "São Paulo é maior que todos nós". Era um apelo contra vaidades e projetos individuais na política. Nunes classificou Covas como "um dos maiores homens públicos que tivemos o privilégio de conhecer".

No início do discurso, o prefeito fez um aceno ao vereador Milton Leite (União Brasil), que deixa a Câmara após 28 anos como vereador. Foi o primeiro a receber agradecimentos de Nunes depois da família. O prefeito afirmou que Leite deixa um "grande legado" e ressaltou a aprovação de 102 projetos de lei enviadas pelo Executivo em 2024.

Outro que recebeu afago do prefeito foi o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a quem Nunes agradeceu pelo apoio e por ter indicado o vice na chapa.

O emedebista foi reeleito após derrotar o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) no segundo turno das eleições de outubro -foi a segunda vez consecutiva que Boulos ficou em segundo lugar na disputa pela prefeitura paulista.

A cerimônia teve gritaria e provocações entre parlamentares de esquerda e de direita. Ao serem chamados ao microfone para fazer o juramento, os vereadores passaram a fazer manifestações políticas, o que levou vários a responderem com declarações mais longas.

O plenário se inflamou quando a última vereadora a tomar posse, Zoe Martinez (PL), disse "Viva Bolsonaro". Integrantes da esquerda gritaram "Sem Anistia" em resposta. Antes disso, Silvia da Bancada Feminista (PSOL) havia levantado um papel com a frase "sem anistia para golpista".

Depois, em evento no Theatro Municipal da cidade, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), voltou a citar a periferia. Ele afirmou que seu objetivo é cuidar dessa área da capital paulista.

Esse tema fez parte de seu discurso durante as eleições de 2024, quando Nunes foi reeleito para comandar o Executivo paulistano. Durante o evento, ele também reclamou das dificuldades que enfrentou ao longo da campanha eleitoral.

Com a voz embargada, bastante emocionado, em um dos momentos do discurso, Nunes começou a limpar as lágrimas e reiterou que o objetivo dele é cuidar da periferia da cidade. "Ao cuidar deles, garantimos o fluxo de investimentos, emprego e renda".

Durante a cerimônia, um vídeo exibido após a apresentação musical da Orquestra Sinfônica de Heliópolis destacou a "sólida formação religiosa" e a figura do homem de família e com origem na periferia, com fotos da época em que Nunes era editor de um jornal de bairro na zona sul da cidade.

Também citou feitos da gestão, como a abertura de 405,3 mil empresas em 2024 -até novembro, a menor taxa de desemprego em 12 anos, a tarifa zero nos ônibus aos domingos e o programa de recapeamento asfáltico.

Entre as cenas de feitos da gestão estava o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que passa as férias nos Estados Unidos e enviou um vídeo após a posse do secretariado.

"Você está pronto. Fez um grande primeiro mandato, realizou muito, fez a diferença."

Durante discurso, Nunes voltou a agradecer a esposa Regina. "Regina tem sido um grande apoio em todas as batalhas do dia a dia", disse.

O prefeito citou a dificuldade que enfrentou nas eleições. "Foi algo difícil e duro. Foi uma eleição fora do padrão naquilo que chamamos de civilidade".

Nunes não fez menção direta, porém, o seu casamento foi exposto durante a corrida eleitoral, principalmente, pelo oponente e ex-coach Pablo Marçal (PRTB), que chegou em terceiro lugar no primeiro turno.

Regina registrou um boletim de ocorrência por violência doméstica contra o prefeito, em 2011. No documento, ela alega ameaça e injúria. O tema foi amplamente explorado em debates e o prefeito cobrado pelos adversários a responder sobre o tema.

Nunes assumiu a administração da capital paulista em maio de 2021, após a morte por câncer de Bruno Covas (PSDB), de quem era vice-prefeito. Nascido na periferia da zona sul, foi vereador por dois mandatos e se projetou na região a partir da atividade empresarial no ramo da dedetização.

Mello Araújo, seu vice, é coronel da reserva da Polícia Militar e já foi diretor-presidente do Ceagesp (Companhia de Armazéns Gerais do Estado de São Paulo), uma empresa pública federal, por três anos. De 2017 a 2019, ele comandou a Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), tropa de elite da PM conhecida pelos altos índices de letalidade.

O acordo para que Mello Araújo concorresse na chapa que saiu vitoriosa ocorreu por indicação pessoal de Bolsonaro, de quem é homem de confiança. Além da vice-prefeitura, ele assume também a Secretaria Executiva de Projetos Estratégicos. Em seu discurso, Araújo agradeceu ao "meu amigo Bolsonaro" por tê-lo convencido a entrar na política. "Eu não queria", afirmou, e disse que o ex-presidente insistiu com a frase: "os bons têm que entrar".

Com previsão de R$ 125,7 bilhões em receitas para 2025, Nunes terá o maior orçamento da história. O valor é 12% a mais que o aprovado para 2024.

Ele inicia seu segundo mandato com 82% do Plano de Metas da prefeitura para o período 2021-2024 concluído. Isso após sua própria gestão ter revisado o programa e desistido de inaugurar quatro terminais de ônibus e dois corredores BRT e, também, de construir 11 piscinões em locais afetados pelas enchentes, entre outros pontos.

"Pela primeira vez na década, foram incluídas obras para pontes e rodovias. Não faremos obras faraônicas, faremos as grandes obras [que a cidade de] São Paulo precisa", afirmou.

Ao longo de sua campanha, ele exaltou conquistas como a fila da creche zerada, o recapeamento recorde, a tarifa zero de ônibus aos domingos e a faixa azul exclusiva para motos. Apesar desses investimentos, a capital teve em 2024 o maior número de mortes no trânsito dos últimos nove anos, considerado o período de janeiro a novembro.

O tempo de deslocamento aumentou, em média, 10 minutos para aqueles que usam o transporte público na capital, e aqueles que usam o sistema de ônibus municipal relatam mais tempo de espera pelas lotações.

Algumas das primeiras mudanças na estrutura do secretariado foram publicadas no Diário Oficial do primeiro dia do ano. A secretaria de Cultura, por exemplo, passa a incluir também a área de economia criativa. As secretarias de Transporte e Trânsito tiveram seus nomes alterados.

Se completar o mandato que assumiu nesta quarta, Nunes pode se tornar o prefeito mais longevo da história recente da capital paulista. Considerando o tempo que já ficou no cargo após a morte de Bruno Covas, ele pode permanecer, ao todo, 7 anos e 7 meses no comando.


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