Nunes pode se tornar o prefeito mais longevo da história recente da capital paulista
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Ricardo Nunes (MDB) pode se tornar o prefeito mais longevo da história recente da capital paulista caso cumpra até o fim o mandato que está assumindo, neste início de janeiro de 2025.
Nunes era vice de Bruno Covas (PSDB). O tucano fazia um tratamento contra um câncer e morreu apenas cinco meses após ser reeleito. Com isso, Ricardo Nunes assumiu o cargo e liderou a gestão por quase todo o mandato para o qual Covas foi conduzido.
Somados aos anos da administração que começa nesta semana, Nunes pode permanecer, ao todo, 7 anos e 7 meses no comando de São Paulo.
Somente Antônio Prado, considerado primeiro prefeito da história da capital paulista, ficou mais tempo no cargo de forma ininterrupta. A gestão Prado ocorreu por 12 anos, entre 1899 e 1911.
Nas últimas décadas, a administração da cidade ficou marcada por interrupções. Além da morte de Bruno Covas, em maio de 2021, José Serra (PSDB) e João Doria (PSDB) deixaram o cargo para concorrer ao governo do estado.
Marta Suplicy (PT) e Fernando Haddad (PT) não conseguiram se reeleger. Gilberto Kassab (PSD) ficou no cargo por 6 anos e oito meses, ao todo. Vice de Serra, Kassab assumiu a gestão municipal deixada pelo tucano e depois foi reeleito para seguir à frente da Prefeitura de São Paulo.
Ricardo Nunes, 56, se filiou ao MDB aos 18 anos e nunca trocou de partido. Ele foi vereador por dois mandatos, tendo sido eleito em 2012 e reeleito em 2016. Na Câmara Municipal, foi relator do Orçamento e comandou CPIs, como a da sonegação fiscal, que aplicou multas milionárias a bancos. Católico, Nunes integrava a bancada religiosa do Legislativo paulistano.
Sua primeira eleição ficou marcada pela crise de fornecimento de energia elétrica causada durante fortes chuvas que atingiram a cidade.
Em duas oportunidades, a última em 2024, milhares de pessoas ficaram sem luz em suas casas e comércios o que levou a uma guerra de acusações entre a gestão da capital paulista, o governo federal e a Enel, empresa responsável pelo setor na cidade de São Paulo.
Nunes é o décimo prefeito a comandar a capital paulista após a redemocratização do país. Este ciclo começou com Jânio Quadros.
Quadros já havia sido prefeito de São Paulo na década de 1950, foi presidente do país, e voltou a assumir a gestão paulistana em 1986, quando foi o responsável por criar a GCM (Guarda Civil Metropolitana) da capital paulista.
Em 1988, uma conjunção de fatores contribuíram para que Luiza Erundina, uma assistente social nordestina, petista e solteira fosse a primeira mulher a governar a maior cidade da América Latina.
Com a presença do educador Paulo Freire (Educação), sua gestão foi marcada por mutirões habitacionais, a construção de seis hospitais, a renovação da frota de ônibus e a inauguração do sambódromo do Anhembi.
Conhecido por focar na construção de grandes obras como rodovias, aeroporto e pontes, Paulo Maluf assumiu a prefeitura em 1992. Ele já havia sido governador do estado de São Paulo durante a ditadura militar e prefeito da capital na década de 1970.
Sua segunda passagem teve programas de apelo midiático. Na área habitacional, o Cingapura, que construía conjuntos habitacionais na tentativa de urbanizar áreas favelizadas. Na educação, o Leve Leite distribuía leite para alunos do ensino público.
Com popularidade em alta, Maluf conseguiu fazer seu sucessor: Celso Pitta. Ao longo da campanha de 1996, Paulo Maluf afirmou que "se Pita não for um grande prefeito, nunca mais votem em mim".
Pitta era diretor da Eucatex (empresa da família de Maluf) quando foi escolhido como secretário das Finanças da capital paulista. Ele era formado em economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com mestrados nas universidades de Leeds (Inglaterra) e Harvard (EUA).
À frente da capital, no entanto, Pitta ficaria marcado por escândalos de corrupção. Entre os que o acusaram, estava a ex-mulher, Nicéa. Entre os escândalos marcantes, as denúncias por desvio de finalidade de precatórios (títulos de dívidas judiciais) e o caso que ficou conhecido como "máfia dos fiscais".
Segunda e última mulher a comandar a cidade de São Paulo, a psicóloga Marta Suplicy (PT) assumiu a prefeitura em 2001. Sua gestão implantou os CEUs (Centro Educacional Unificado) e o Bilhete Único, projetos ainda em funcionamento e até hoje considerados marcas importantes para a cidade, em especial nas periferias.
Ela, contudo, também teve sua gestão criticada pela criação de taxas, como a chamada "taxa do lixo", que visava financiar os sistemas de coleta, transporte, destinação final e tratamento do lixo.
Ela foi substituída pelo economista José Serra (PSDB), ex-ministro da Saúde. Sua gestão foi curta, já que deixou o comando da cidade para concorrer na eleição ao governo. Ele cancelou a "taxa do lixo" e criou a Virada Cultural, presente até hoje no calendário da cidade.
Pai da Lei Cidade Limpa, Kassab teve que lidar com escândalos nas áreas de saúde e educação e com falhas na prevenção de enchentes e no programa de inspeção veicular, ao longo de seus mais de 6 anos na prefeitura.
Fernando Haddad (PT), ex-ministro da Educação e atual ministro da Fazenda, foi o prefeito paulistano depois da gestão Kassab. Ele criou a CGM (Controladoria Geral do Município) e defendeu bandeiras como ampliação das ciclovias e das faixas exclusivas para ônibus na cidade, revisão do Plano Diretor e o programa Braços Abertos que abarcava a situação da cracolândia, na região central.
Por outro lado, ficou marcado por ser o prefeito da cidade no momento em que São Paulo se tornou o centro das manifestações de junho de 2013.
O empresário João Doria derrotou o petista e assumiu o cargo, mas foi prefeito por apenas 15 meses, saindo também para concorrer ao governo.
Ele se vestiu de gari no primeiro dia de mandato, e teve uma gestão com muitas ações de marketing e exposição em suas redes sociais. A impulsividade foi uma marca nesses 15 meses. O episódio da farinata foi o mais notório. Sem consultar secretários, anunciou a ideia de distribuir o granulado alimentar a famílias pobres.
Em 2016, mais conhecido por ser neto de Mario Covas (1930-2001) do que pela atuação discreta como parlamentar, Bruno Covas se tornou o vice na chapa de João Doria (PSDB) para a prefeitura como uma tentativa de pacificar o tucanato rachado pela escolha de um "outsider" como candidato.
Em abril de 2018, aos 38 anos, ele assumiria o posto de prefeito, deixado por Doria que viria a ser eleito governador. Pretensa vitrina da gestão, Covas deixou inacabada a reforma do Anhangabaú que custou mais de R$ 100 milhões e sofreu sucessivos atrasos.
Seu mandato ficou marcado pela pandemia de coronavírus, com a cidade sendo uma das mais atingidas pela doença.
Covas também se posicionou contra medidas consideradas autoritárias do então presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (PL). Prometeu vetar mudanças nos livros de história que contemporizassem o golpe de 1964 e ao longo de sua gestão acolheu um festival com todas as peças de teatro censuradas pelo governo federal.
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