Orçado em R$ 4 bi, futuro VLT vai interligar o centro de SP; veja como será
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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Do Bom Retiro à catedral da Sé ou à zona cerealista, com o Theatro Municipal, a Biblioteca Mário de Andrade e o Mosteiro São Bento de fundo. Se os planos da Prefeitura de São Paulo se concretizarem, os moradores da cidade vão poder realizar esse trajeto de VLT (veículo leve sobre trilhos) antes do fim da década.
A previsão é que ele transporte cerca de 134 mil pessoas por dia e interligue grande parte da região central da capital paulista. Tudo isso faz parte do estudo urbanístico do projeto, concluído no último dia 21 de fevereiro. Com 324 páginas, o documento traz, inclusive, maquetes virtuais de como ficará a obra.
Com custo estimado em R$ 4 bilhões, o projeto agora passará por audiências públicas e a prefeitura espera licitar no primeiro trimestre de 2026 a PPP (parceria público-privada) para tocar implantação e gestão do transporte público.
A previsão é de três anos de obras, ou seja, a primeira parte deve ser entregue aos usuários em 2029.
Fatia do recurso para o investimento, cerca de R$ 1,3 bilhão, foi pedido pela prefeitura em 2023 junto ao PAC (Plano de Aceleração do Crescimento), do governo federal.
A expectativa é concluir neste semestre os projetos restantes, como de engenharia, arqueológico e de preservação do patrimônio.
A reportagem teve acesso a parte do estudo urbanístico Serão duas linhas com pouco mais de 6 km de distância cada uma, que se interligarão no largo do Paissandu. Atualmente, elas são chamadas de vermelha e azul, mas serão rebatizadas para jequitibá e sibipiruna, respectivamente, para não haver confusão com as linhas 1-azul e 3-vermelha, do metrô.
Ao todo, elas formam três anéis, sendo que dois deles, menores, fazem parte da jequitibá. Ela parte da região do Bom Retiro e segue para a do Campos Elíseos, onde o governo estadual planeja transferir sua sede administrativa, e vai pela avenida São João até o largo Paissandu, voltando pela rua Cásper Líbero.
A sibipiruna, em um único anel, passa por vias como as avenidas São João, Ipiranga, região da praça da Sé, parque Dom Pedro 2º, Mercado Municipal e avenida Prestes Maia. Ao contrário da outra, com sentido único, a azul terá trilho duplo de vai e volta.
O preço da passagem será o mesmo dos ônibus (atualmente R$ 5) e haverá integração com Bilhete Único. Ainda não foi definido se um usuários terá de pagar duas tarifas se mudar de linha no VLT.
Com velocidade estimada em 18 km/h, o percurso total de cada linha deverá ser feito em 40 minutos.
Os trilhos serão dispostos em vias como ruas José Paulino, Mauá e avenida Duque de Caxias. O VLT, de acordo com a gestão Ricardo Nunes (MDB), será interligado com nove estações de metrô, duas da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) e cinco terminais de ônibus.
Haverá supressão de pistas dos veículos comuns para instalação de trilhos. Ou seja, carros e VLT terão de conviver no trânsito. Para isso, haverá controle semafórico com prioridade para o novo transporte público.
O VLT terá sensores, radares e geolocalização que asseguram a sua chegada a um cruzamento com o sistema semafórico já controlado, diz a prefeitura.
"Será a milha final de quem vai ao centro, mas que lá precisa se deslocar à pé por grandes distâncias", afirma Pedro Fernandes, presidente da SPUrbanismo (empresa municipal vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Urbano).
A estimativa é tirar de circulação no centro 11 mil veículos ao dia, de pessoas que optem por trocar o carro pelo VLT. Numa das pontas da linha jequitibá, há, inclusive, a previsão de construção de um estacionamento para quem chega ao centro com transporte individual.
O estudo urbanístico prevê 5 km de corredores verdes e integração com 30 km de malha cicloviária, além de uma estimativa de 50 km de calçadas acessíveis.
De acordo com Fernandes, o sistema tende a valorizar imóveis ao longo de sua rota, atrair investimentos e dinamizar o comércio, especialmente em regiões com baixa ocupação, como na Luz.
Segundo os estudos, cerca de 2 milhões de pessoas podem ser beneficiadas com fomento ao turismo.
O VLT deverá facilitar o acesso a pontos culturais e econômicos do centro, como o Mercado Municipal, o triângulo histórico, a rua 25 de Março, o Theatro Municipal e a Sala São Paulo. Também terá ponto estratégico na antiga "Parada dos Bondes", na praça João Mendes, para quem vai à Liberdade.
O trajeto também incluirá espaços de lazer e convivência, como o vale do Anhangabaú, Parque da Luz, largo do Arouche, praça da Sé e Parque Dom Pedro 2º, além do próprio do Paissandu as imagens disponibilizadas mostram espaços de convivência na calçada no entorno da praça da Luz
Ele ligará a estrutura dos poderes: Tribunal de Justiça, Câmara Municipal, prefeitura e a futura sede administrativa do governo estadual.
Rafael Castelo, diretor de desenvolvimento urbano da SPUrbanilsmo, diz que deverá haver redução de 20 mil toneladas de emissão de CO2 (dióxido de carbono) ao ano com menos carros no centro.
O grupo de trabalho do projeto tem conversado com fabricantes dos trens para saber qual o melhor modelo. Segundo Fernandes, poderão ser movidos a energia elétrica subterrânea ou mesmo a hidrogênio.
"Mas, em qualquer caso, deveremos deixar a estrutura subterrânea pronta para a necessidade de troca do modelo de veículo lá na frente", afirma. Não estão previstas desapropriações.
Defensor da implantação de VLTs em grandes centros urbanos, Ivan Metran Whately teve acesso ao projeto paulistano quando ele foi apresentado ao Instituto de Engenharia, do qual é vice-presidente.
Especialista em transportes, ele critica o fato de uma das linhas não ser bidirecional. "É um centro muito grande para circular", afirma.
A Secretaria de Desenvolvimento Urbano afirma que poderá avaliar, em razão da demanda, uma mudança no plano para a linha vermelha também ter dois sentidos.
O especialista considera baixo o número estimado de veículos a menos nas ruas, o poderia mudar com trajetos mais diretos do VLT. "Ele tem qualidades que outros modais não têm, pois é limpo, requalifica a cidade e pode ser estruturador de desenvolvimento."
CONCESSÃO PATROCINADA
Atualmente, uma comissão analisa um estudo para o edital de licitação da PPP. A concessão será do tipo patrocinada como nos ônibus urbanos. Ou seja, a prefeitura vai subsidiar o custo que não for coberto com o pagamento de tarifa pelo passageiro.
Conforme os estudos, o VLT deverá custar de R$ 100 milhões a R$ 140 milhões ao ano, valores maiores que as receitas tarifárias esperadas, de R$ 80 milhões a R$ 100 milhões ao ano.

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