Protesto contra remoções na favela do Moinho termina em confronto e bombas de gás
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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um protesto contra o plano do governo paulista de realocar moradores da favela do Moinho, no centro de São Paulo, terminou em confronto com a Polícia Militar no início da noite desta terça-feira (15).
O ato com aproximadamente 200 pessoas, entre moradores, pessoas ligadas a movimentos de moradia e outras com camisetas de partidos políticos, seguia pacífico pela avenida Ipiranga com destino à Câmara Municipal de São Paulo.
Quando passava sobre o viaduto Nove de Julho, próximo ao início da rua da Consolação, motociclistas tentaram furar a manifestação, tentando passar pelo lado da avenida, dando início à confusão.
Um dos manifestantes foi para cima de um policial, que reagiu com o cassetete. Em seguida, outros PMs chegaram, aumentando o confronto. Nesse momento, houve disparos de balas de borracha, bombas de gás lacrimogêneo e gás de pimenta, dando início a uma correria.
Essa confusão ocorreu na parte final do protesto. Na frente, os líderes já haviam chegado à Câmara Municipal, em frente ao Palácio Anchieta, onde três das seis faixas do viaduto Jacareí foram interditadas.
Como é horário de pico de saída dos trabalhadores para suas casas, o protesto travou o trânsito, criando congestionamento.
Para evitar que os manifestantes invadissem a Câmara, a Tropa de Choque da PM se postou em linha, bloqueando a passagem. O grupo negociou a entrada no prédio, onde ocorria a sessão ordinária da Câmara.
O grupo conseguiu a promessa de que será recebido por uma comissão de vereadores e, diante disso, decidiu retornar para a favela, disse Flávia Santos, 44, líder comunitária e moradora do Moinho. "Atingimos nosso objetivo, que era chamar a atenção para nossa causa", disse.
De volta à comunidade, o grupo aplaudiu a chegada. Eles prometem uma nova mobilização no dia 22, quando estão previstas as primeiras remoções.
Harold de Araújo, 23, nasceu na favela do Moinho e foi ferido por uma bala de borracha no braço direito durante a confusão. Ele foi um dos que bloquearam a passagem dos motociclistas.
Auxiliar de serviços gerais, ele conta que ganha apenas um salário mínimo para pagar todas as despesas dele e da mãe, com quem mora. Ela não possui renda, diz.
Araújo é contra o plano do governo Tarcísio de Freitas de remoção da favela do Moinho. Ele afirma não ter renda suficiente para arcar com o financiamento e outras despesas relacionadas a uma mudança para um apartamento fora da comunidade.
"A proposta não é boa porque não é aceitável em lugar nenhum. Como que você vai botar os moradores para pagar um apartamento, sendo que não temos condição nem de sobreviver direito? Estamos batalhando para sobreviver, para nos alimentar, e os caras estão empurrando um apartamento para nós que não temos condição de pagar. Eu levei o documento, mas quando saquei a proposta, não aceitei. Vou resistir até o final", conta Araújo.
Segundo a gestão estadual, 84% das famílias já aceitaram a proposta habitacional apresentada para a remoção da favela. Cenário de incêndios, disputas por posse e alvo de uma recente megaoperação policial contra o tráfico de drogas, a densa ocupação murada cresceu nas últimas três décadas entre duas ferrovias na divisa dos bairros Campos Elíseos e Bom Retiro.
Segundo a gestão Tarcísio, 703 famílias já fizeram adesão ao plano de reassentamento, após passar por reuniões individuais em escritório montado pela CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) nas proximidades da comunidade. Destas, 531 já estariam habilitadas.
"A CDHU tem se reunido com lideranças desde o ano passado para apresentar as opções de atendimento habitacional. As reuniões têm sido acompanhadas pela Defensoria Pública e por lideranças da comunidade. No primeiro desses encontros, em setembro de 2024, ficou acordado que a Companhia iniciaria um cadastramento dos moradores, que resultou num diagnóstico de um potencial de atendimento cerca de 800 famílias. Portanto, a adesão atual já é de 86%", diz a Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação.
A pasta informa ainda que foi montado um escritório nas proximidades da comunidade para facilitar o contato com as famílias e "a equipe social da companhia permanece à disposição para tirar eventuais dúvidas. Quando tiverem início, as mudanças serão gradativas e agendadas com as famílias".
Parte da comunidade, no entanto, se recusa a sair. Esse grupo diz que a adesão dos moradores ocorre diante do temor de uma retirada à força e sem qualquer compensação.
Procurada sobre o confronto da noite desta terça, a Secretaria da Segurança Pública afirmou que a PM acompanha a manifestação e que "equipes da Força Tática foram encaminhadas ao local para garantia da ordem e da segurança do ato e dos moradores da região".

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