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Roubos e furtos crescem na periferia de SP e gestão Tarcísio celebra queda de crimes no centro

Por Folha de São Paulo

07/07/2024 9h00 — em
Variedades



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Final de junho. O governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) divulga nota em que cita a queda de 50% nos roubos na região da cracolândia, no centro da capital paulista, entre janeiro e maio. A redução ocorre em uma área hoje repleta de policiais militares e guardas-civis. Situação diferente da que acontece na periferia da cidade, onde em cinco meses os crimes patrimoniais cresceram.

Vídeos que viralizam nas redes sociais mostram ataques de duplas em motos. Armados, eles atacam as vítimas em busca de celulares, principalmente. Policiais ouvidos pela reportagem confirmaram que esse tipo de crime é difícil de ser combatido devido à rápida forma de fuga dos bandidos.

Encravado na maior favela de São Paulo, o 95° DP (Heliópolis), na zona sul, é um exemplo de como criminosos têm atacado nos bairros mais distante do centro.

Em cinco meses foram registradas 793 ocorrências de roubo naquele perímetro, uma alta de 60% na comparação com os 493 casos de 2023. Excluindo possíveis subnotificações, a quantidade anotada neste ano é a maior desde 2017, quando 924 boletins de ocorrência foram registrados.

Já os casos de furto subiram 23% em Heliópolis, passando de 550 queixas para 677, maior número da série histórica, iniciada em 2002. Diferentemente do cenário dos bairros Santa Cecília e Campos Elíseos, na região da cracolândia (no centro), que juntos registraram queda de 32% nos furtos, segundo o governo.

Outra área na periferia paulistana que sofre com a insegurança é a do 32° DP (Itaquera), na zona leste. Naquela porção da cidade houve alta de 40% nos roubos e de 8% nos furtos em cinco meses.

Ao menos outras oito delegacias fora do centro expandido registraram de forma simultânea alta de roubos e furtos no período, seja na zona sul, leste ou norte da cidade.

Enquanto isso, dos dez distritos policiais na área da 1° Delegacia Seccional (Centro), seis tiveram queda de roubos e furtos: 1° DP (Sé), 3° DP (Campos Elíseos), 4° DP (Consolação), 12° DP (Pari), 77° DP (Santa Cecília) e 78° DP (Jardins).

Por outro lado, dois deles, 5° DP (Aclimação) e 6° DP (Cambuci), tiveram alta de roubos e furtos. O 2° DP (Bom Retiro) registrou somente alta de roubos, e o 8° DP (Brás), de furtos.

Na cidade como um todo, os números da SSP (Secretaria da Segurança Pública) indicam queda de 12% nos roubos e de 3% nos furtos nos primeiros cinco meses do ano, na comparação entre o mesmo período de 2023 com o de 2024.

"Os trabalhos integrados das polícias Civil e Militar permitiram à capital fechar os primeiros cinco meses do ano com redução de 13,4% nos roubos (incluindo a banco, de carga e de veículo) e de 2,6% nos furtos (incluindo de veículo). Os roubos e furtos de celulares seguiram a tendência, com recuo de 24,2%, 18.739 crimes a menos que janeiro a maio de 2023", informa a SSP, em nota.

A pasta afirma que cada área possui características populacionais, sazonais e geográficas únicas, que impactam nos indicadores criminais.

"Mesmo assim, a SSP se mantém atenta à variação dos índices para implementar políticas públicas de enfrentamento, bem com reorientar as atividades policiais e o patrulhamento nas ruas."

Ainda conforme a secretaria, a "Polícia Militar realiza seu planejamento operacional com base no monitoramento de 'hot spots' --locais de maior incidência sazonal de crimes específicos".

Um policial ouvido pela reportagem diz que o programa de motocicletas da PM, a Rocam, é um aliado importante na contenção dos criminosos e deveria ser ampliado. Ele explica que a moto, além de trazer agilidade, acessa locais onde as viaturas não conseguem entrar, como vielas e escadarias.

Para Rafael Alcadipani, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, "a impressão que a gente tem é de uma preocupação [do governo] muito mais de marketing do que uma melhoria de condição das pessoas".

"Se você pegar a região central, você vê que isso virou uma campanha do governador e do secretário de segurança [Guilherme Derrite]. Você tem um cobertor curto. E na hora que você começa a fazer esse tipo de estratégia de marketing, em que você diz que quer acabar com o crime no centro e tudo mais, você acaba desguarnecendo as outras regiões", diz.

Alcadipani, que também é professor da FGV, afirma que os governantes tendem a privilegiar alguns bairros que chamam mais a atenção e se esquecem das pessoas que moram na periferia.

"Lembra que teve um comandante da Rota [coronel Mello Araújo, anunciado como vice na chapa de Ricardo Nunes à reeleição] que falou que tinha abordagem diferente [nos Jardins e na periferia]? Não é apenas abordagem, é a quantidade de equipamento de polícia que você coloca nas regiões periféricas e que você coloca nas regiões centrais."

Para Alcadipani, a São Paulo de hoje é extremamente insegura, sendo necessário uma auditoria nos dados divulgados.

"A gente precisava ter uma verificação independente desses números da Secretaria da Segurança Pública. Porque isso fica muito à mercê do interesse que é colocado na secretaria. O ideal é que a gente tivesse uma agência externa da Secretaria de Segurança Pública que fosse totalmente auditável para produzir as estatísticas de segurança em São Paulo", afirma.

Para o coordenador de projetos do Instituto Sou da Paz, Rafael Rocha, é necessário mais investimento na Polícia Civil, que precisa ter condições de investigar as quadrilhas que recebem telefones roubados.

"É uma cadeia muito mais complexa do que o roubo de uma correntinha de ouro ou de um relógio. Demanda uma quadrilha. A pessoa que vai roubar o celular vai vender para uma quadrilha especializada, que vai fazer o desbloqueio, que vai ter uma série de pessoas que vão fazer papel de laranja para receber Pix, para receber empréstimo. Essa rede dificilmente vai ser desmantelada com a atuação só da Polícia Militar", diz.

A pasta chefiada por Derrite, ex-policial da Rota (tropa de elite da PM paulista), negou que o acréscimo de policiais no centro tenha afetado as periferias da cidade.

"Na capital foram disponibilizados mais de 1.700 novos PMs e mais de 80 policiais civis por meio das formaturas da atual gestão. Além disso, desde o início de 2023, o policiamento em todo o estado é reforçado com mais 17 mil policiais, por meio da Operação Impacto", informa a SSP.

Na mesma nota, a secretaria afirma que a quantidade de presos e apreendidos subiu 2,5%, com um total de 18.206 criminosos detidos, sendo que 4.494 foram capturados por crimes patrimoniais nas áreas abrangidas pelas delegacias citadas pela reportagem.

"Ao todo, 1.472 armas de fogo ilegais foram retiradas das mãos de criminosos no período em toda a cidade de São Paulo --alta de 23,9%."


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