Vila histórica no Tatuapé pode desaparecer com revisão de tombamento em SP
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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Tombada como patrimônio histórico municipal após ter sido quase totalmente destruída, a vila operária João Migliari ou o que restou dela poderá ser eliminada da paisagem do Tatuapé, na zona leste de São Paulo.
Um pedido de destombamento da área no entorno do conjunto de sobrados que começou a ser discutido há duas semanas pelo Conpresp (conselho de patrimônio da cidade) voltará à pauta do órgão nesta segunda-feira (24) com um parecer para a retirada total da proteção aos imóveis.
Os cinco sobrados tombados são remanescente de um quarteirão antes ocupadas por 60 casas idênticas, construídas pelo empreendedor italiano Raphael Parente como moradias de aluguel para a classe trabalhadora entre os anos 1940 e 1950.
Em meio a uma crescente valorização imobiliária proporcionada pelo Plano Diretor de 2014, que deu incentivos para que grandes edifícios fossem construídos próximos a estações de metrô e corredores de ônibus, a vila localizada entre as estações Tatuapé e Carrão começou a ser demolida em 2019 por decisão dos proprietários.
Quando o processo de tombamento teve início, cinco sobrados ainda não tinham ido ao chão. Em 2023, o Conpresp tombou o remanescente da vila João Migliari e outros dois conjuntos construídos por Parente. As demais vilas tombadas estão no Belém, distrito vizinho ao Tatuapé, também na zona leste.
No último dia 10, o DPH (Departamento de Patrimônio Histórico) apresentou um pedido para revisar o tombamento. O setor da Secretaria de Cultura da gestão Ricardo Nunes (MDB) pediu a exclusão da área envoltória, como é chamado o entorno de locais históricos onde não se pode construir prédios altos.
Na avaliação do DPH, a rápida construção de grandes edifícios e de um supermercado próximos aos imóveis tornaram sem sentido o tombamento do entorno.
Durante a reunião, porém, a discussão caminhou para a possibilidade de retirada total do tombamento após o parecer apresentado por Beatriz Mendes, conselheira representante da área de licenciamento da Secretaria de Urbanismo de Nunes.
Ela argumentou sobre eventuais falhas no processo devido à ausência de referências a estudos sobre outras vilas de aluguel, afirmando que o tombamento foi inadequadamente utilizado para atender a grupos contrários à verticalização do bairro.
Ao confirmar à reportagem que os referidos imóveis estão tombados, gestão Nunes destacou que quaisquer intervenções nos bens relacionados ou em sua área envoltória são de competência do DPH e do Conpresp.
Recorrer a órgãos de preservação do patrimônio para evitar o avanço de prédios em bairros residenciais tem sido um recurso adotado por associações de moradores nas zonas sul e oeste da capital paulista, mas esse não é o caso do Tatuapé, afirma o arquiteto Lucas Chiconi.
Pesquisador das transformações do bairro, ele diz não existir um movimento antiverticalização no Tatuapé e que a motivação para o tombamento é histórica e cultural.
Ele argumenta que os cinco sobrados são os únicos imóveis particulares comuns declarados patrimônio no bairro. Os demais bens tombados correspondem a um parque público (Piqueri), duas escolas públicas e uma casa bandeirista do século 18, que faz parte do Museu da Cidade de São Paulo.
"Antes da vila João Migliari, não havia qualquer tombamento considerando a história da formação dos bairros e da contribuição dos seus grupos sociais para a urbanização", diz.

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