Volume construído em grandes cidades brasileiras cresceu mais do que população, diz estudo
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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O espaço construído em cidades brasileiras cresceu mais do que a população na comparação de um intervalo de 30 anos, de 1993 a 2020. Mas a forma como cada espaço urbano mudou foi diferente. Metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro lideraram o processo de verticalização, enquanto Manaus, Campo Grande e Cuiabá tiveram expansão horizontal.

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É o que diz um estudo da organização WRI Brasil divulgado nesta quarta-feira (26). Segundo a publicação, o crescimento populacional no período foi absorvido, em sua maioria, pela expansão vertical ou estável (55%) das metrópoles, e o restante (45%), pela horizontal.
O estudo "Trinta anos de expansão vertical e horizontal em cidades brasileiras" afirma que a maioria das concentrações urbanas no país teve crescimento populacional maior do que o crescimento de construção horizontal, mas menor do que o crescimento vertical. Isso poderia indicar um adensamento de volume construído, mas não necessariamente demográfico.
A metodologia, segundo a organização, permite comparar, pela primeira vez, o quanto as cidades cresceram para cima, com prédios altos, para além da detecção do espraiamento.
"Até hoje, a gente vem analisando muito a dinâmica das cidades por conta do crescimento populacional", afirma Henrique Evers, gerente de desenvolvimento urbano do WRI Brasil. Já a evolução da mancha urbana horizontal podia ser analisada por meio de fotos de satélite, segundo o especialista. "Acho que é fundamental destacar a relevância, o quanto abre de possibilidades para análise a gente colocar o dado da expansão vertical junto com esses dois outros dados a que já se tinha acesso."
Foram analisadas as variações de população e do espaço construído em 185 concentrações urbanas no país. Os dados demográficos de Censo e da Pnad, ambos do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), foram cruzados com registros de uso do solo da plataforma MapBiomas. E a inovação, segundo os pesquisadores, foi aplicar sensores desenhados para medir vento no oceano.
"São sensores de radar que existem desde o início dos anos 1990, que tinham sido desenhados originalmente para medir a velocidade de vento no mar", diz Guilherme Iablonovski, pesquisador e consultor sobre ciência de dados e autor do estudo.
"Agora estão sendo reutilizados e já foi demonstrado que há uma correlação forte, muito útil, com a altura de prédios, que promove a reflexão desse sinal que é enviado. Podemos, então, criar essa série histórica que não se acreditava ser possível", afirma o pesquisador.
O estudo chegou a uma categoria de dez quilômetros para cada pixel. No Rio, por exemplo, 35% dos 124 pixels indicam expansão vertical moderada do espaço urbano, e outros 40%, estabilidade. Já São Paulo tem 30% de 117 dessas unidades em forte expansão vertical.
O crescimento horizontal, chamado no estudo de espraiamento, é mais acentuado em Cuiabá, com 33% dos seus 15 pixels registrados com forte expansão horizontal e 53% com expansão horizontal moderada. Já Manaus chegou a registrar 21% das 14 unidades em expansão vertical, mas o tipo mais frequente é a forte expansão horizontal (43%).
O estudo também agrupou concentrações pelo tipo de crescimento. O espraiamento intenso tem, além de Cuiabá e Manaus, Campo Grande (MS), Ribeirão Preto (SP), Londrina (PR), Natal (RN), Teresina (PI) e São José do Rio Preto (SP), entre outras. As populações do grupo têm entre 500 mil e 1 milhão de habitantes.
Já algumas das concentrações com estabilidade da expansão urbana, a maioria com até 500 mil habitantes, são São José dos Campos (SP), Florianópolis, Jundiaí (SP), Blumenau (SC) e Feira de Santana (BA).
As concentrações urbanas, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), são arranjos populacionais ou municípios isolados com mais de 100 mil habitantes. Acima de 750 mil habitantes, as concentrações são consideradas grandes.
A pesquisa, afirmam os especialistas, não analisa a forma do desenvolvimento urbano, mas oferece um ponto de partida para análises sobre como as cidades têm crescido no país.
Um debate para São Paulo é o do déficit habitacional. Reportagem da Folha de 2023 mostrou, com dados do Censo Demográfico de 2022, que a cidade tinha 588.978 imóveis vazios, entre apartamentos e casas. A prefeitura estimou um déficit na capital de 400 mil imóveis.
Já uma pesquisa sobre os incentivos para habitação social indica que a falta de dados e as faixas amplas de renda entre os públicos-alvo dificultam o controle dos programas, que podem não estar chegando a quem de fato precisa.

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